27 de abril de 2022

Álvares de Azevedo: Biografia


Álvares de Azevedo
Nascimento12 de setembro de 1831
São Paulo, São Paulo, Império do Brasil
Morte25 de abril de 1852 (20 anos)
Rio de Janeiro, Império do Brasil
Nacionalidadebrasileiro
OcupaçãoEscritor, contista e poeta
Movimento literário:Romantismo 
Manoel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, Província de São Paulo, Império do Brasil, 12 de setembro de 1831 — Rio de Janeiro, Império do Brasil, 25 de abril de 1852), conhecido também como "Maneco" pelos amigos mais próximos, familiares e admiradores de sua obra, foi um escritor da segunda geração romântica (UltrarromânticaByroniana ou Mal-do-século), contista, dramaturgo, poeta, ensaísta e e expoente da literatura gótica brasileira, autor de Noite na Taverna. As obras de Álvares de Azevedo tendem a jogar fortemente com as noções opostas, como amor e morte, sentimentalismo e pessimismo, platonismo e sarcasmo, sendo influenciado por Musset, Chateaubriand, Lamartine, Goethe e, principalmente, Byron.
Biografia

Filho de Inácio Manoel Álvares de Azevedo e Maria Luísa Silveira da Motta Azevedo, passou a infância no Rio de Janeiro, onde iniciou seus estudos. Voltou a São Paulo, em 1847, para estudar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde, desde logo, ganhou fama por brilhantes e precoces produções literárias. Destacou-se pela facilidade de aprender línguas e pelo espírito jovial e sentimental.

Durante o curso de Direito traduziu o quinto ato de Otelo, de Shakespeare; traduziu Parisina, de Lord Byron; fundou a revista da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano (1849); fez parte da Sociedade Epicureia; e iniciou o poema épico O Conde Lopo, do qual só restaram fragmentos.

Não concluiu o curso, pois foi acometido de uma tuberculose pulmonar nas férias de 1851-52, a qual foi agravada por um tumor na fossa ilíaca, ocasionado por uma queda de cavalo, falecendo aos 20 anos. No entanto, vale ressalva, a causa mortis do autor é um tema historicamente controverso, com diferentes hipóteses.

A sua obra compreende: Poesias diversasPoema do Frade, o drama Macário, o romance O Livro de Fra GondicárioNoite na TavernaCartas, vários Ensaios (incluindo "Literatura e civilização em Portugal", "Lucano", "George Sand" e "Jacques Rolla") e Lira dos vinte anos

Suas principais influências são: Goethe, François-René de Chateaubriand, mas principalmente Alfred de Musset.

Figura no cânone da poesia brasileira. Foi muito lido até as duas primeiras décadas do século XX, com constantes reedições de sua poesia e antologias. As últimas encenações de seu drama Macário foram em 1994 e 2001. É patrono da cadeira 2 da Academia Brasileira de Letras.

Lira dos Vinte Anos

Álvares de Azevedo.
Lira dos Vinte Anos (inicialmente planejada para ser publicada num projeto — As Três Liras — em conjunto com Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães). é o título da principal obra do autor.
É evidente a explicitação de Álvares de Azevedo na postura consciente do fazer poético, afinal em seus prefácios há um alto grau de conhecimento quanto à proposta ultrarromântica, a qual exibe um certo metarromantismo marcada pelo senso crítico.
É, provavelmente, o primeiro a incorporar o cotidiano na poesia no Brasil, com o poema Ideias íntimas, da segunda parte da Lira. O autor de Lira dos Vinte Anos estabelece valores e critérios a sua obra. Revela-se, assim, uma verdadeira teorização programada.
No segundo prefácio de Lira dos Vinte Anos, o seu autor nos revela a sua intencionalidade e o vincula de tal maneira ao texto poético, que a gratuidade e autonomia perde espaço e revela a intencionalidade do poeta, isto é, explicação de temas, motivos e outros elementos.
Um aspecto característico de sua obra e que tem estimulado mais discussão diz respeito à sua poética, que ele mesmo definiu como uma "binomia", que consiste em aproximar extremos, numa atitude tipicamente romântica. É importante salientar o "Prefácio" à "Segunda parte" de Lira dos Vinte Anos, um dos pontos críticos de sua obra e na qual define toda a sua poética.
Machado de Assis publicou na coluna “Semana Literária” do jornal Diário do Rio de Janeiro de 26 de junho de 1866 uma análise da Lira dos vinte anos. Ali escreveu: “Álvares de Azevedo era realmente um grande talento; só lhe faltou o tempo, como disse um dos seus necrólogos. [...] Era daqueles que o berço vota à imortalidade. Compare-se a idade com que morreu aos trabalhos que deixou, e ver-se-á que seiva poderosa não existia naquela organização rara.” “Em tão curta idade, o poeta da Lira dos vinte anos deixou documentos valiosíssimos de um talento robusto e de uma imaginação vigorosa. Avalie-se por aí o que viria a ser quando tivesse desenvolvido todos os seus recursos”.
O crítico literário português Lopes de Mendonça, num perfil literário de Álvares de Azevedo, escreve: “O jovem poeta não cantava somente para as turbas que se deixassem comover pela harmonia de seus cantos; cantava porque lhe ardia no peito um fogo devorador, porque a sua alma ébria, e palpitante, lhe acendia a imaginação, e como lhe intimava, que traduzisse aos outros, a magia dos seus sonhos, o fervor dos seus desejos, o esplêndido irradiar da sua esperança”.
O jornal niteroiense A Pátria de 16 de maio de 1856, numa “Meditação aos ossos do poeta Álvares de Azevedo”, afirma que “aquele crânio foi um livro de versos sublimes como os de Byron, foi uma página divina de Shakespeare; foi um raio da inteligência de Homero; aquele crânio guardava um cérebro cheio como o de Camões, e constituiu uma cabeça que merecia uma coroa, como a que Tasso teve no Capitólio!”.
Atualmente, a literatura de Álvares de Azevedo tem suscitado alguns estudos acadêmicos, dos quais sublinham-se "O Belo e o Disforme", de Cilaine Alves Cunha (EDUSP, 2000), e "Entusiasmo indianista e ironia byroniana" (Tese de Doutorado, USP, 2000); "O poeta leitor. Um estudo das epígrafes hugoanas em Álvares de Azevedo", de Maria C. R. Alves (Dissertação de Mestrado, USP, 1999); "Álvares de Azevedo: A busca de uma literatura consciente", de Gilmar Tenorio Santini (Dissertação de Mestrado, UNESP, 2007); "Uma lira de duas cordas", de Rafael Fava Belúzio (Scriptum, 2015).
O crítico literário Alexei Bueno faz uma interessante observação sobre a "característica quase esquizoide da alma de Álvares de Azevedo", a dissociação entre sua obra "onde não faltam bebedeiras e orgias altamente byronianas" e sua vida pacata de "excelente e responsabilíssimo aluno, de enorme afeição familiar e provavelmente bastante casto". Essa mesma polarização é problematizada em "Uma lira de duas cordas", obra que faz uma inovadora leitura da recepção crítica do poeta.
Trabalhos

Devido a sua morte prematura, todos os trabalhos de Álvares de Azevedo foram publicados postumamente.

  • Lira dos Vinte Anos (1853, antologia poética);
  • Macário (1855, peça de teatro);
  • Noite na Taverna (1855, contos);
  • O Conde Lopo (Juaréz Cavalcante)

Álvares de Azevedo também escreveu muitas cartas e ensaios e traduziu para o português o poema Parisina, de Lorde Byron, e o quinto ato de Otelo, de William Shakespeare.

Cronologia
Homenagem ao poeta pelo Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco.
  • 1831, 12 de setembro – Nascido em São Paulo, na esquina da rua da Feira com a rua Cruz Preta, atuais Senador Feijó e Quintino Bocaiuva.
  • 1831 – Transfere-se para o Rio de Janeiro.
  • 1835 – Morre a 26 de junho seu irmão mais novo, Inácio Manoel, em Niterói, ainda bebê, com menos de dois anos, deixando o futuro poeta profundamente abalado.
  • 1840 – É matriculado no Colégio Stoll, em Botafogo. Seu desempenho rende elogios do proprietário do colégio, o Dr. Stoll: "Ele reúne, o que é muito raro, a maior inocência de costumes à mais vasta capacidade intelectual que já encontrei na América num menino da sua idade".
  • 1844 – Transfere-se para São Paulo, após estudos de francês, inglês e latim volta para o Rio no fim do ano.
  • 1845 – Matricula-se no 5º ano do internato do Colégio Pedro II, no Rio, onde muito sofreu, devido ao gênio folgazão, que o levava a caricaturar colegas e professores.
  • 1846 – Cursa o 6º ano no mesmo colégio, tendo como professor Domingos José Gonçalves de Magalhães.
  • 1847 – Recebe, a 5 de dezembro, o grau de bacharel em Letras.
  • 1848 – Ingressa, a 1 de março na Faculdade de Direito de São Paulo, onde conhece, entre outros, José de Alencar e Bernardo Guimarães.
  • 1849 – Matricula-se no 2º ano. Pronuncia um discurso a 11 de agosto, na sessão comemorativa do aniversário da criação dos cursos jurídicos no Brasil. Passa as férias no Rio, com constantes pensamentos de morte.
  • 1850 – Escreve um romance de 200 e tantas páginas, dois poemas, um em 5 e outro em 2 cantos, ensaios, fragmento de poema em linguagem muito antiga (hoje perdido). A 9 de maio, profere o discurso inaugural da sociedade "Ensaio Filosófico". De volta a São Paulo, matricula-se no 3º ano. Em setembro, suicida-se, por amor, o quintanista Feliciano Coelho Duarte, o poeta faz, a 12 do mesmo mês, o discurso de adeus.
  • 1851 – Cursa o 4º ano. Em 15 de setembro, morre João Batista da Silva Pereira. Passa as férias em Itaboraí, na fazenda do avô.
  • 1852, 25 de abril – Após complicações advindas de uma queda de cavalo, no município de Itaboraí, no trajeto de Visconde para Porto das Caixas, cria-se um tumor na fossa ilíaca que tentou ser retirado segundo alguns biólogos sem anestesia, a ferida infecciona e após 40 dias de febre alta falece, às 17 horas no Rio de Janeiro em casa. É enterrado no dia seguinte, num cemitério na praia vermelha na zona sul do Rio de Janeiro que mais tarde viria a ser destruído pelo mar em ressaca. Segundo biógrafos seu cachorro teria encontrado seus restos mortais. Hoje está sepultado no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro, num mausoléu da família perto dos túmulos de Floriano Peixoto e outros grandes nomes do final do séc. XIX — tendo sido o décimo segundo a ser sepultado nesse cemitério inaugurado em 1854, como consta da primeira página de seu livro de registros.
Túmulo do poeta Álvares de Azevedo (lápide)
Obras
  • 1853 Poesias de Manoel Antônio Álvares de Azevedo'Lira dos Vinte Anos e Poesias diversas;
  • 1855 Obras de Manoel Antônio Álvares de Azevedo, primeira publicação da sua prosa (Noite na Taverna);
  • 1862 Obras de Manoel Antônio Álvares de Azevedo, 2ª e 3ª edições, primeira aparição do Poema do Frade e "Terceira parte" da Lira.
  • 1866 O Conde Lopo, poema inédito.
Merece um destaque especial a Lira dos Vinte Anos, composta de diversos poemas. A Lira é dividida em três partes, sendo a primeira e a terceira da Face Ariel e a segunda da Face Caliban. A Face Ariel mostra, supostamente, um Álvares de Azevedo ingênuo, casto e inocente. Já a Face Caliban apresenta poemas irônicos e sarcásticos.
Fonte: Wikipedia

10 de abril de 2022

Dica de Leitura: Obras de Dostoiévski

O box Grandes obras de Dostoiévski traz dois clássicos da literatura mundial: Crime e castigo e Os irmãos Karamázov. Publicado pela primeira vez em 1866, Crime e castigo narra a história de um jovem que comete um assassinato por uma recompensa ridícula e acaba vivendo atormentado por sua própria consciência. Já Os irmãos Karamázov foi o último romance do escritor russo e sintetiza todas as possibilidades de sua arte. Concentrando em cada um dos quatro filhos do velho Karamázov uma qualidade humana, Dostoiévski reflete os problemas do século XIX e, como grande escritor, transcende o seu próprio tempo, apresentando um painel memorável dos dramas universais.
Grandes obras de Dostoiévski - Crime e castigo e Os irmãos Karamazov Editora: Nova Fronteira 1ª edição (31 outubro 2021)  Idioma: ‎Português  Capa dura ‏  1600 páginas
Crime e Castigo
Romance do escritor Fiódor Dostoiévski, publicado na revista literária O Mensageiro Russo durante doze edições mensais ao longo do ano de 1866. Posteriormente, foi publicado em volume único. É o segundo romance de Dostoiéviski, escrito após seu exílio de dez anos na Sibéria. Crime e Castigo é considerado o primeiro grande romance do seu período de escrita "maduro".
O romance é frequentemente mencionado como uma das maiores obras da literatura universal. O romance se baseia numa visão sobre religião e existencialismo com um foco predominante na ideia de atingir salvação por meio do sofrimento, ao que o autor envolve algumas questões acerca do socialismo e do niilismo. Os personagens do romance, assim como suas caracterizações e personalidades, bem como em outras obras de Fiódor Dostoiévski, inspiraram pensamentos filosóficos, sociológicos e psicológicos da segunda metade do século XIX e também no século XX. Tendo como influenciados declarados Nietzsche, Sartre, Freud, Orwell, Huxley, dentre outros. 
Os traços autobiográficos particularmente evidentes, como a adoração pela mãe, o vício do jogo (também explorado pelo autor em O Jogador) e a fidelidade psicológica da narrativa acompanhada pelos traços estilísticos do autor, colocaram esta obra entre as maiores da história da literatura universal e, certamente, junto com Os Irmãos Karamazov, garantiram a Fiódor Dostoiévski a posição de maior escritor russo da história em conjunto com Lev Tolstoy.

Enredo
O personagem principal, apesar de ex-estudante de Direito, é um homem extremamente pobre e que vive angustiado pela sombra de fazer algo importante. Ele divide os indivíduos em ordinários e extraordinários, numa tentativa de explicar a quebra das regras em prol do avanço humano. Seguindo esse preceito, o personagem planeja e concretiza, em meio a uma luta com sua consciência, a morte de uma agiota.
Antes de fugir da cena do crime, porém, Raskólnikov também comete, a contragosto, levado apenas pela situação de surpresa, o assassinato de Lizavieta, irmã da velha agiota, pois ela havia aparecido no local inopinadamente.
Raskólnikov rouba algumas joias, mas não chega a usufruir desse ganho e, sentindo-se arrependido, enterra-as sob uma pedra.
Após tal fato e seus desfechos, o romance relata de maneira detalhista os dramas psicológicos sofridos pelo autor do homicídio.
Diversas histórias se desenvolvem de maneira paralela à principal, entre elas um romance da irmã do personagem Raskólnikov e as relações do protagonista com Sônia, filha de um funcionário público a quem ele doou dinheiro.
Apesar de investigar Raskólnikov, a polícia termina por prender um inocente que se intitulou culpado devido à pressão que sofria. Entretanto, o personagem por fim confessa o crime que cometera. A confissão deveu-se, principalmente, à enorme influência de Sônia, que, antes disso, compartilha com Raskólnikov a descrição da ressurreição de Lázaro, contida no Novo Testamento.
No decorrer da história, Raskólnikov conta à Sônia sobre o crime que cometeu, e sua irmã fica sabendo por uma terceira pessoa o que ele havia feito. Visto o fato, o tamanho do crime que ele cometera e as pessoas que sabiam e desconfiavam do ocorrido, mais parecia que não eram as pessoas que o importunavam, mas a sua consciência que sufocava, esfacelava seu íntimo. Mostras de que ele não fazia parte do grupo dos extraordinários, indivíduos nos quais ele considerava capazes de cometer quaisquer crimes, ou infringir regras sem culpa alguma.
Por fim, Raskólnikov é preso. Porém, devido à sua confissão, arrependimento e falta de antecedentes criminais, sua pena acaba por ser reduzida a oito anos em uma cadeia na Sibéria. Durante tal período, Sônia, personagem que a partir de certo momento segue Raskólnikov em todas as situações, manteve-se muito presente, servindo até mesmo de mensageira a sua família em São Petesburgo.
Os Irmãos Karamazov 
Romance de Fiódor Dostoiévski, escrito em 1879, uma das mais importantes obras das literaturas russa e mundial, ou, conforme afirmou Freud: "a maior obra da história". Freud considera esse romance, juntamente com Édipo Rei e Hamlet, três importantes livros a respeito do embate pai e filho, e retratam o complexo de Édipo.

Obra aclamada pela crítica, trata-se de uma narração muito pormenorizada como que de uma testemunha dos aludidos factos numa cidade afastada russa. O narrador pede constantes desculpas ao leitor por não saber alguns factos, por considerar a própria narrativa longa (mesmo nos formatos grandes o livro passa de 700 páginas) e por considerar seu herói alguém pouco conhecido ou, até mesmo, insignificante. A narrativa não só conversa com o leitor, mas é omnipresente e também indica ou infere os pensamentos dos incontáveis personagens.

Provavelmente o nome Karamázov foi forjado a partir de "kara", "castigo" ou "punição", e do verbo "mázat", "sujar", "pintar", "não acertar". Significaria, então, aquele que com seu comportamento errante vai tecendo a sua própria desgraça, segundo nota dos tradutores da obra.

Enredo
A narrativa trata da história de uma conturbada família em uma cidade na Rússia. O patriarca da família é Fiódor Pavlovitch Karamázov, um palhaço devasso que subiu na vida principalmente devido aos dotes de suas duas mulheres, ambas mortas de forma precoce, e à sua mesquinharia. Com a primeira mulher tem um filho, Dmitri Fiodorovitch Karamázov, que é criado primeiramente pelo criado que mora na isbá ao lado de sua casa e depois por Miússov, parente de sua falecida mãe. Com a segunda mulher tem mais 2 filhos: Ivan e Aliêksei Fiodorovitch Karamázov, que são criados também por um parente da segunda mulher do pai de ambos. Ao passo que Ivan se torna um intelectual, atormentado justamente por sua inteligência, Aliêksei se torna uma pessoa mística e pura, entrando para um mosteiro na cidade.
De uma querela financeira entre o pai e seu primogênito, também devasso porém honrado, nasce também a disputa por uma mulher, Gruchénka, que levará ambos a descomedidos atos que resultarão na morte de Fiódor Pavlovitch Karamázov.
Os irmãos Karamázov deveria ter uma continuação, onde o narrador exporia de melhor forma o caráter de seu herói, o filho mais novo Aliêksei Fiodorovitch Karamázov, para o qual esta narrativa seria a primeira parte de sua biografia, porém Dostoiévski morreu antes de finalizar a segunda parte de sua obra. Dostoiévski declara no início do prólogo que a obra é, de fato, sobre Alieksiéi:

"Ao começar a biografia de meu herói, Alieksiéi Fiódorovitch, sinto-me um tanto perplexo. Com efeito, se bem que o chame meu herói, sei que ele não é um grande homem; prevejo também perguntas deste gênero: "Em que é notável Alieksiéi Fiódorovitch, para que tenha sido escolhido como seu herói? Que fez ele? Quem o conhece e por quê? Tenho eu, leitor, alguma razão para consagrar meu tempo a estudar-lhe a vida?".

Primeira parte
Livro I: História de uma família O início do romance apresenta a família Karamázov e relata a história de seu passado distante e recente. Os detalhes dos dois casamentos de Fiódor, bem como sua indiferença quanto à criação de seus filhos, são relatados. O narrador também descreve as personalidades bem diversas dos três irmãos e as circunstâncias que levaram ao seu retorno à cidade de Fiódor. O primeiro livro termina descrevendo a misteriosa ordem religiosa dos startzí a que Aliócha se afeiçoou.

Livro II: Uma reunião inoportuna O livro dois começa quando a família Karamázov chega no mosteiro local para que o stárietz Zossima possa agir como mediador entre Dmitri e seu pai Fiódor em seu conflito em torno da herança de Dmitri. Aparentemente foi ideia do pai, como um gracejo, fazer a reunião num local tão sagrado na presença do stárietz. Dmitri chega atrasado, e a reunião logo degenera e apenas exacerba a briga entre Dmitri e Fiódor. Este livro também contém uma cena onde o stárietz Zossima consola uma mulher que chora a morte de seu filho de três anos. A dor da pobre mulher compara-se à própria tragédia de Dostoiévski com a perda de seu filho jovem Aliócha.

Livro III: Os lascivos O terceiro livro fornece mais detalhes do triângulo amoroso que irrompeu entre Fiódor, seu filho Dmitri e Grúchenka. A personalidade de Dmitri é explorada na conversa entre este e Aliócha, quando Dmitri se esconde perto da casa do pai para ver se Grúchenka chegará. Nessa mesma noite, Dmitri irrompe na casa do pai e o ataca, enquanto ameaça voltar e matá-lo no futuro. Este livro também apresenta Smierdiakóv e suas origens, bem como a história de sua mãe, Lizavieta Smierdiáschaia. Na conclusão do livro, Aliócha é testemunha da humilhação de Catierina, noiva de Dmitri, por Grúchenka, resultando num terrível constrangimento e escândalo para essa mulher orgulhosa.

Segunda parte
Livro IV: Mortificações Esta secção apresenta uma história secundária que ressurgirá em mais detalhes adiante no romance. Começa com Aliócha observando um grupo de meninos atirando pedras em um de seus colegas, o doentio Iliúcha. Quando Aliócha chama a atenção dos meninos e tenta ajudar, Iliúcha morde o dedo de Aliócha. Mais tarde fica-se sabendo que o pai de Iliúcha, um capitão reformado chamado Snieguirióv, foi atacado por Dmitri, que o arrastou pela barba para fora de um bar. Aliócha logo toma conhecimento dos infortúnios presentes no lar de Snieguirióv e oferece ao capitão reformado dinheiro como desculpas pelo seu irmão e para ajudar a esposa doente e filhos de Snieguirióv. Após inicialmente aceitar o dinheiro com alegria, Snieguirióv atira-o de volta para Aliócha por orgulho e corre para sua casa.

Livro V: Pró e contra Aqui a ideologia racionalista e niilista que permeava a Rússia naquela época é defendida e adoptada entusiasticamente por Ivan Karamázov ao se encontrar com o irmão Aliócha em um restaurante. No capítulo intitulado "Rebelião", Ivan proclama que rejeita o mundo que Deus criou porque foi erguido sobre uma base de sofrimento. Em talvez o capítulo mais famoso do romance, "O Grande Inquisidor", Ivan narra para Aliócha seu poema imaginado que descreve um líder da Inquisição Espanhola e seu encontro com Jesus, que retornou à Terra. Aqui, Jesus é rejeitado pelo Inquisidor que o lança na prisão e depois diz:
O Grande Inquisidor diz que Jesus não deveria ter dado aos humanos a "carga" do livre arbítrio. Ao final dessas discussões, Jesus silenciosamente dá um passo à frente e beija o velho homem nos lábios. O Grande Inquisidor, atônito e comovido, ordena que Ele nunca mais volte ali, e o solta. Aliócha, após ouvir a história, vai até Ivan e o beija suavemente, com uma emoção inexplicável, nos lábios. Ivan grita de alegria, porque o gesto de Aliócha foi tirado diretamente de seu poema. Os irmãos então se despedem.

Livro VI: Um monge russo O sexto livro relata a vida e história do stárietz Zossima no leito de morte em sua cela. Zossima explica que encontrou sua fé em sua juventude rebelde, em meio a um duelo, consequentemente decidindo tornar-se monge. Zossima prega que as pessoas devem perdoar as outras reconhecendo seus próprios pecados e culpa perante os outros. Explica que nenhum pecado é isolado, tornando todos responsáveis pelos pecados de seus vizinhos. "Tudo é como o oceano, tudo corre e se toca, tu tocas em um ponto e teu toque repercute no outro extremo do mundo". Zossima representa uma filosofia que responde à de Ivan, que desafiara a criação de Deus no livro anterior.

Terceira parte
Livro VII: Aliócha O livro começa imediatamente após a morte de Zossima. Acredita-se na cidade, e no mosteiro também, que os corpos de homens realmente santos são incorruptos, ou seja, não sucumbem à putrefação. Assim a expectativa em torno do stárietz Zossima é que seu falecido corpo não se decomponha. A cidade inteira fica chocada quando o corpo de Zossima não só se decompõe, mas começa o processo quase imediatamente após sua morte. No primeiro dia, o cheiro do corpo de Zossima já é insuportável. Para muitos isso põe em dúvida seu respeito e admiração anteriores por Zossima. Aliócha fica particularmente devastado pela mancha na imagem de Zossima devido a nada mais que a corrupção de seu corpo morto. Um dos colegas de Aliócha no mosteiro chamado Rakítin usa a vulnerabilidade de Aliócha para marcar um encontro entre este e Grúchenka. Contudo, em vez de Aliócha se corromper, consegue renovar sua fé e esperança com Grúchenka, enquanto a mente atribulada de Grúchenka começa a trilha da redenção espiritual por sua influência: eles se tornam amigos próximos. O livro termina com a regeneração espiritual de Aliócha ao abraçar e beijar a terra fora do mosteiro e chora convulsivamente até finalmente voltar ao mundo, como instruído por Zossima, renovado.

Livro VIII: Mítia Esta seção trata basicamente da busca desenfreada e confusa de dinheiro por Dmitri para que possa fugir com Grúchenka. Dmitri deve dinheiro à sua noiva Catierina e se considerará um ladrão se não devolvê-lo antes de embarcar em sua busca por Grúchenka. Essa procura louca de dinheiro leva Dmitri do benfeitor de Grúchenka para uma cidade vizinha atrás de uma falsa promessa de negócio. Enquanto isso Dmitri morre de medo de que Grúchenka possa ir até seu pai Fiódor e desposá-lo, porque este já dispõe dos meios financeiros para satisfazê-la. Quando Dmitri retorna de seu negócio fracassado na cidade vizinha, acompanha Grúchenka até a casa de seu benfeitor, mas logo descobre que esta o enganou e saiu de lá cedo. Furioso corre até a casa do pai com um pilão de cobre na mão, e o espia pela janela. “Odeio a papada dele, o nariz dele, os olhos dele, sua zombaria desavergonhada. Sinto um asco pessoal.” Ele arranca o pilão do bolso. Depois ocorre uma descontinuidade na ação, e Dmitri está subitamente fugindo da propriedade do pai, atingindo o criado Grigori na cabeça com o pilão com resultados aparentemente fatais. Dmitri é depois visto atordoado na rua, coberto de sangue, com uma pilha de dinheiro na mão. Logo fica sabendo que o primeiro amante de Grúchenka retornou e a levou a uma estalagem em Mókroie, uma aldeia próxima. Ao saber disso, Dmitri enche uma carroça de comida e bebida e paga por um enorme festim para enfim confrontar Grúchenka na presença de sua velha paixão, com a intenção de se matar depois ao alvorecer. O "primeiro e legítimo amor", porém, é um polonês rude que trapaceia num jogo de cartas. Quando essa fraude é revelada, ele foge, e Grúchenka logo revela a Dmitri que na verdade está apaixonada por ele. O festim prossegue, e justo quando Dmitri e Grúchenka estão planejando se casar, a polícia entra na estalagem e informa a Dmitri que ele está preso, acusado do assassinato de seu pai.

Livro IX: Investigação preliminar O Livro Nove apresenta os detalhes do assassinato de Fiódor e descreve o interrogatório de Dmitri ao ser interrogado pelo crime que sustenta que não cometeu. O suposto motivo do crime é roubo. Dmitri sabidamente estava sem dinheiro nenhum no início daquela noite, mas subitamente foi visto na rua com milhares de rublos logo após o assassinato do pai. Enquanto isso, os 3 mil rublos que Fiódor Karamázov havia reservado para Grúchenka despareceram. Dmitri explica que o dinheiro que gastou naquela noite veio dos 3 mil rublos que Catierina lhe entregara para que ele enviasse à irmã dela. Ele gastou metade em seu primeiro encontro com Grúchenka — outra bebedeira — e costurou a outra metade num saquinho, pretendendo devolvê-lo a Catierina em nome da honra, ao que diz. Os advogados não se convencem. Todos os indícios apontam contra Dmitri; a única outra pessoa na casa no momento do assassinato era Smierdiakóv, que estava incapacitado devido a um ataque epiléptico que aparentemente sofrera no dia anterior. Como resultado dos indícios esmagadores contra ele, Dmitri é formalmente acusado de parricídio e levado à prisão para aguardar o julgamento.

Quarta parte
Livro X: Os meninos Este livro continua a história dos meninos e Iliúcha que havíamos visto no Livro Quatro. O livro começa pela apresentação do menino Kólia Krassótkin. Kólia é um menino brilhante que proclama seu ateísmo, socialismo e crença nas ideias da Europa. Parece destinado a seguir as pegadas espirituais de Ivan Karamázov. Kólia está entediado com a vida e constantemente assusta sua mãe ao se expor ao perigo. Como parte de uma brincadeira, Kólia deita-se entre os trilhos de uma ferrovia enquanto o trem passa por cima e torna-se uma espécie de lenda devido à façanha. Todos os outros meninos respeitam Kólia, especialmente Iliúcha. Após os eventos narrados no Livro Quatro, sua doença progressivamente se agravou, e seu médico afirma que ele não se recuperará. Kólia e Iliúcha tiveram uma desavença porque Iliúcha maltratou um cachorro, dando-lhe pão com um alfinete dentro por sugestão de Smierdiakóv. Mas graças à intervenção de Aliócha os outros meninos gradualmente se reconciliaram com Iliúcha, e Kólia logo se junta a eles na cabeceira do doente. É aqui que Kólia trava conhecimento com Aliócha e começa a reavaliar suas crenças niilistas.

Livro XI: O irmão Ivan Fiódorovich O Livro Onze relata a influência destrutiva de Ivan Karamázov sobre aqueles à sua volta e sua queda na loucura. É neste livro que Ivan encontra-se três vezes com Smierdiakóv, o encontro final culminando com a confissão dramática de Smierdiakóv de que havia simulado seu ataque epiléptico, assassinado Fiódor Karamázov e roubado o dinheiro, que apresenta a Ivan. Smierdiakóv expressa descrença na pretensa ignorância e surpresa de Ivan. Smierdiakóv alega que Ivan foi cúmplice no assassinato ao informar Smierdiakóv de quando estaria partindo da casa de Fiódor, e principalmente ao inculcar em Smierdiakóv a crença de que em um mundo sem Deus “tudo é permitido”. O livro termina com Ivan tendo uma alucinação em que é visitado pelo diabo, que atormenta Ivan ao zombar de suas crenças. Aliócha encontra Ivan desvairado e informa-lhe que Smierdiakóv se matou logo após o encontro final deles.

Livro XII: Um erro judiciário Este livro detalha o julgamento de Dmitri Karamázov pelo assassinato de seu pai Fiódor. O drama na sala do tribunal é fortemente satirizado por Dostoiévski. Os homens na multidão são apresentados como ressentidos e vingativos, e as mulheres sentem-se irracionalmente atraídas pelo romantismo do triângulo amoroso entre Dmitri, Catierina e Grúchenka. A loucura toma conta de Ivan e ele é carregado para fora da sala do tribunal após narrar seu encontro final com Smierdiakóv e a mencionada confissão. O ponto de virada no julgamento é o depoimento condenador de Catierina contra Dmitri. Enfurecida pela doença de Ivan que acredita resultar de seu suposto amor por Dmitri, ela apresenta uma carta escrita por Dmitri bêbado dizendo que mataria Fiódor. A seção se encerra com as observações finais eloquentes do promotor e da defesa, e o veredicto de que Dmitri é culpado.

Epílogo: A seção final começa com a discussão de um plano desenvolvido para a fuga de Dmitri de sua sentença de vinte anos de trabalhos forçados na Sibéria. O plano não chega a ser plenamente descrito, mas parece envolver Ivan e Catierina subornando uns guardas. Aliócha aprova, primeiro porque Dmitri não está emocionalmente preparado para se submeter a uma sentença tão dura, segundo porque é inocente, e terceiro porque nenhum guarda ou funcionário seria prejudicado ao ajudar na fuga. Dmitri e Grúchenka planejam fugir para a América e trabalharem como agricultores ali por vários anos, e depois retornarem à Rússia sob nomes americanos falsos, porque ambos não conseguem conceber viverem fora da Rússia. Dmitri implora que Catierina o visite no hospital, onde está se recuperando de uma doença antes de ser enviado à Sibéria. Nessa visita, Dmitri pede desculpas por tê-la magoado; ela por sua vez pede desculpas por ter apresentado a carta acusadora durante o julgamento. O romance termina no funeral de Iliúcha, onde seu amigos ouvem o “Discurso Junto À Pedra” de Aliócha. Este promete lembrar Kólia, Iliúcha, e todos os outros meninos e mantê-los no coração, embora tenha de deixá-los e possa não vê-los de novo até que muitos anos tenham decorrido. Implora que amem uns ao outros e que sempre recordem Iliúcha, mantendo sua lembrança viva em seus corações e lembrando aquele momento junto à pedra quando estiveram todos juntos e amaram uns ao outros. Aliócha então narra a promessa cristã de que um dia se reunirão após a Ressurreição. Chorando, os doze meninos prometem cumprir aquilo que Aliócha lhes pede, dão as mãos e retornam à casa de Snieguirióv para o jantar do funeral, gritando: "Hurra, Karamázov!"

"Por que achaste de aparecer agora para nos atrapalhar? Pois vieste nos atrapalhar e tu mesmo o sabes. [...] Faz muito tempo que já não estamos contigo, mas com ele [Satã] [...] Recebemos dele aquilo que rejeitaste com indignação, aquele último dom que ele te ofereceu ao te mostrar todos os reinos da Terra: recebemos dele Roma e a espada de César, e proclamamos apenas a nós mesmos como os reis da Terra, os únicos reis [...] mas nós o conseguiremos e seremos os Césares, e então pensaremos na felicidade universal dos homens."