Antologia sobre lugares sinistros. A edição física já acabou a tiragem mas tem conto no blog
CONTO COMPLETO:
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30 de janeiro de 2022
𝖀𝖓𝖎𝖛𝖊𝖗𝖉𝖔 𝕷𝖔𝖛𝖊𝖈𝖗𝖆𝖋𝖙: 𝕮𝖔𝖓𝖙𝖔𝖘 - 𝕺𝖘 𝕮𝖆̃𝖊𝖘 𝖉𝖊 𝖁𝖆𝖑𝖆𝖉𝖔𝖗
Bem, esse meu primeiro conto foi publicado em e-book em 2020, mas tbm foi publicado em uma versão resumida em livro em físico em 2021, assim como outros livros com antologias, a tiragem foi baixa e já esgotou mas o conto completo tem disponível por aqui:
CONTO COMPLETO
24 de novembro de 2021
𝕬𝖈𝖆𝖉𝖊𝖒𝖎𝖆 𝕴𝖓𝖉𝖊𝖕𝖊𝖓𝖉𝖊𝖓𝖙𝖊 𝖉𝖊 𝕷𝖊𝖙𝖗𝖆𝖘
Academia de Letras é uma instituição de cunho literário e linguístico, que reúne uma quantidade limitada de membros efetivos, numa tradição iniciada no Século XVII com a Academia francesa. O termo "academia" remonta à Academia de Platão - escola fundada pelo célebre filósofo grego nos jardins que um dia teriam pertencido ao herói Akademus (donde vem o nome). Ali buscava-se, pelo dialética socrática, o saber pelo questionamento e pelo debate.
Ao contrário da Escola de Isócrates, onde o conhecimento consistia na mera repetição do saber. Foi com esta ideia de debates, que diversas instituições literárias surgiram em França, entre as décadas de 1620 a 1630 - consolidando-se na matriarca de todas as agremiações literárias - a citada Académie…
Ao Brasil, com certo atraso, foram fundadas: Academia Brasílica dos Esquecidos (Bahia, 1724) Academia dos Felizes (Rio de Janeiro, 1736) Academia dos Selectos (Rio de Janeiro, 1751 ou 1752) Academia Brasílica dos Renascidos (na Bahia, revivendo a dos Esquecidos, de vida breve - em 1759) Muitas outras vieram das quais apenas a francesa subsistiu - tendo também sido a única oficializada pelo Estado.
Após a fundação da Academia Brasileira de Letras, foram sendo constituídas Academias em cada Estado da Federação brasileira. Sem possuir a grandiosidade e importância da Brasileira, várias delas constituem-se ativas e importantes espaços para a divulgação da literatura local e reconhecimento dos valores estaduais, neste mister, destacam-se, nos dias atuais, a Academia Paulista de Letras e a Academia Cearense de Letras. A Carioca já ocupou lugar de destaque, mas hoje, assim como a Baiana, não tem conseguido manter o nível de atividade do passado.
No Brasil, com a proliferação de entidades literárias, muitas cidades não reuniam "literatos" em número suficiente para que viessem a justificar a fundação de um "silogeu". Vieram, assim, as Academias "mistas": de "letras e artes" (em tese, todo "artista" pode ser membro); de "letras e música", etc. De outro lado, certas categorias profissionais ou associativas, reunindo em seu bojo muitos escritores, passaram a criar Academias específicas: médicos, militares, maçons, passaram também a ter "suas" próprias Academias de Letras, nominadas como no caso dos formados em Direito, das chamadas academias "de Letras Jurídicas".
Muitas cidades têm na sua Academia o órgão literário máximo, no qual se reúnem-se os expoentes locais e regionais. Com o advento da tecnologia e da internete, academias virtuais passaram a unir escritores de diversos lugares em apenas um espaço virtual, democratizando e difundido de maneira nacional e internacional os escritores que fazem parte de uma, como é o caso da ACADEMIA INDEPENDENTE DE LETRAS (AIL) é uma associação civil de direito privado, com finalidades culturais, sem fins lucrativos, criada em 09 de junho de 2018.
Sendo que no dia 30 de Outubro de 2021, tive a oportunidade de me associar...
1 de outubro de 2021
Antologia - Lugares Sinistros
Em "Lugares Sinistros" vai ter um jardim maravilhoso, cheio de flores e uma linda casa, mas o que um jardim florido teria de tão sinistro? Para o pobre personagem que passeia por ele, vai ter muitas coisas.
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Foto: Conto de Evelyn Veiga,"O jardim da casa desconhecida" |
Pode um parque de diversões, um hospital, um cemitério, um antigo orfanato ou uma casa abandonada abrigar mistérios, casos sobrenaturais ou virar o local de um crime? Muitas vezes, lugares comuns e aparentemente inofensivos podem se tornar cenários de histórias macabras e até mesmo crimes hediondos.
A nova antologia LUGARES SINISTROS, da Dark Books Coletâneas, reunirá contos de terror, suspense e mistério. Use a sua criatividade para nos enviar seu conto sobre lugares que se tornaram malditos após virarem palco para as mais assustadoras histórias.
27 de julho de 2021
Dica de Leitura: Coletânea Aterrorizante
Sinopse:
Antologia dividida em duas partes: Na primeira parte estão reunidos os contos e na segunda parte estão os poemas e as poesias.
O livro tem como temática história de terror, horror e sobrenatural ligados ao Hallowenn onde oferecerá ao leitor uma mistura de terror, suspense e o encontro com o desconhecido em uma coletânea sombria, perturbadora e aterrorizante.
E por o Halloween simbolizar o período mais aterrorizante do ano, a Antologia tem um projeto gráfico diferenciado composto por uma seleção de textos de tirar o fôlego e perder o sono.
Fotos:
Foto: Capa do livro |
Foto: trecho do conto " As mulheres que viravam patas" - {...}que venha claro como dia, o segredo revelado, nós voamos por cima, arvoredo vai por baixo" |
Foto: Autora Evelyn Veiga |
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Foto: sinopse do livro "contos e poesias aterrorizantes reunidas no livro |
Foto: eu com o livro😁 |
Compre no site: Travassos Editora
Dica de Leitura: Antologia POE
SINOPSE:
Conhecido por suas histórias que envolvem o mistério e o macabro, uma mistura do horror gótico e do romantismo sombrio, Edgar Allan Poe é o homenageado nesta obra. Foi um dos maiores escritores de sua época, criador de gêneros literários e uma literatura emblemática, envolvida por metáforas e conotações. Além disso, Poe destaca-se por ter sido um dos primeiros autores norte-americanos de contos, e por ter tentado ganhar a vida por si só com a escrita.
Antologia POE
Fotos:
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Foto: "eu me tornei insano, com longos intervalos de horrível sanidade" |
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Foto: contra-capa |
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Foto: Poema "O corvo" |
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Foto: Conto "Os olhos de Eurídice" |
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Foto: O corvo ilustrado |
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Foto: Autores selecionados |
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Foto: Biografia de Edgar Allan Poe |
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Foto: Contos e poesias góticas reunidos no livro em homenagem a Edgar Allan Poe |
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Foto: Evelyn Veiga |
Sobre Edgar Allan Poe:
Nesta antologia reunem-se 13 autores com enigmas para serem descobertos inspirados na literatura de Poe. Aprecie e descubra a envolvente narrativa do goticismo.
Cabelos desalinhados, olhar provocador, abismos no lugar de olheiras, lábios cinicamente desenhados: antes mesmo dos textos que escreveu, o retrato de Edgar Allan Poe já causa estranhamento. Se alguém que nunca o tenha visto lhe lançar um relance, fatalmente retornará o olhar. Fatalmente se inquietará diante da expressão ora enigmática, ora melancólica, mas sempre desafiadora do autor estadunidense. Isto acontece porque o retrato de Poe é também o de sua vida. Sua breve e tumultuada vida, que começa em 19 de janeiro de 1809, em Boston, e se encerra em 07 de outubro de 1849, em Baltimore.
O retrato de um rosto esculpido pela genialidade, mas também vincado pelo desequilíbrio, pelo álcool e por uma incontrolável tendência à autodestruição. Segundo filho dos atores David Poe e Elizabeth Arnold (tinha um irmão mais velho e uma irmã mais nova), Edgar perde ambos antes de completar três anos. É adotado logo depois pelo rico casal John Allan e Frances Kielling Allan, de Richmond. Com a adoção, a criança recebe boa educação e viaja pelo velho mundo – a família morou por cinco anos na Inglaterra. Mas, ainda que a infância tenha sido marcada por alguma calmaria, Poe não demora a apresentar o violento temperamento que o caracterizou, desde sempre, como enfant térrible. Conforme cresce, vai acumulando repreensões e sendo expulso das escolas em que estudava. Em 1824, quando ingressa na Universidade de Charlottesville, Poe já se destaca pela inteligência e pela destreza física (chega a nadar por 11 quilômetros contra a poderosa corrente do rio James, na Virgínia, somente pela façanha). Mas o comportamento provocador, as apostas e, principalmente, a bebida logo passam a causar problemas mais sérios. Pouco depois, Poe recebe um irrecusável convite para se retirar da instituição. Isso leva o relacionamento com o pai adotivo, já um tanto turbulento, às raias do inviável. Nos anos seguintes, segue-se um período obscuro em sua vida, durante o qual se sabe apenas de frequentes viagens para fora do país. Na ocasião, Poe já escreve poesia, vindo a publicar seu primeiro livro, Tamerlane e outros poemas, em 1827.
Em 1829, resolve seguir carreira militar e é admitido na conhecida Academia de West Point; mas é novamente afastado por indisciplina. Neste mesmo ano seu segundo livro, Al Aaraaf, Tamerlane e poemas menores, é publicado. O terceiro, Poemas, vem em 1831, quando Poe vai morar com a tia Eliza Clemm, em Baltimore. Mas a rebeldia do temperamento não se atenua. Pelo contrário: a obsessão pela contravenção o leva a colecionar problemas e desafetos. Para piorar, as complicações pessoais se acumulam. Após o falecimento da mãe adotiva, o pai se casa com uma mulher mais jovem, que lhe dá dois filhos. Assim, Poe fica impedido de se tornar herdeiro da fortuna paterna e decide se afastar de vez. Após enfrentar tempos de verdadeira penúria, começa a participar de concursos literários. E vence o da revista Baltimore Saturday Visitor com o conto Manuscrito encontrada em uma garrafa. Na mesma época, também conquista prêmios nas categorias de poesia e conto do periódico Southern Literary Messenger, o que abriu as portas para um período de (relativa) prosperidade. O fundador do Southern... convida Poe a dirigi-la. Como editor e crítico, ele passa a demonstrar todo o seu talento e sua sensibilidade estética. Escritor maduro, só faz refinar sua técnica nos contos, poemas e resenhas literárias que produz. A revista se impõe como referência, e Poe atinge notável status no meio, de modo que a relativa estabilidade profissional se estende à vida pessoal: ainda morando com a tia, ele acaba por se casar com a filha dela, a prima Virginia Clemm, de apenas 13 anos, em 1836. Mas a calmaria não dura muito mais. Ao cabo de dois anos, o incorrigível Poe tateia o terreno movediço rumo ao abismo alcoólico, o que devasta a boa relação que tinha com o patrão: acaba demitido. Desempregado, novamente decide mudar de ares e parte, com Virginia, para Nova Iorque. Lá é publicado, em 1838, seu texto mais longo, A narrativa de Arthur Gordon Pym. Seguem-se novamente alguns anos de certa tranquilidade, durante os quais Poe produz intensamente.
São dessa época as suas obras mais famosas. Como vários dos Contos do Grotesco e do Arabesco, também conhecidos como Histórias extraordinárias e que incluem A queda da casa de Usher, de 1840, Assassinatos da rua Morgue (considerada a primeira história genuinamente detetivesca da literatura), de 1841, O corvo e outros poemas, de 1845, entre outras. Mas, apesar do reconhecimento, Poe segue esbarrando nas dificuldades arquitetadas pelo seu próprio gênio. E continua incapaz de proporcionar, a si e à mulher, uma vida minimamente digna. Isso agrava o já combalido estado de saúde de Virginia, que, pouco depois, em 1847, morre de tuberculose. A partir daí a ruína é total. Se antes Poe caminhava lentamente para o suicídio, agora corre a passos largos. E o faz com vigor, bebendo cada vez mais, comportando-se de forma violenta e sofrendo seguidos ataques de delirium tremens. Até que, no outono de 1849, durante um tour literário que promove para angariar fundos, um anoitecido Poe entra em uma taberna de Baltimore; e lá consome suas últimas horas em bebedeira selvagem. Existem controvérsias sobre as causas da morte. Há quem diga que foi o alcoolismo; há quem garanta que foi assassinato; e há quem acredite nas mais diversas doenças. O fato é que, naquela última noite, já avançada, quase parindo o dia, Poe cambaleia para fora da taberna e sai perambulando pelas ruas. Até que o vento noturno, velho conhecido e tão inspirador em outras épocas, visita-o uma última vez. Como de costume, o sopro anuncia-se pelo apagar das velas nos postes e pelo ranger de portas distantes. E o ataca, desta vez mais implacável do que nunca, para extinguir-lhe a chama da existência. Pouco antes do amanhecer, Poe é encontrado inconsciente e levado ao hospital Washington College – onde, com 40 anos, vem a falecer. É enterrado sem qualquer cerimônia em uma vala comum do cemitério local.
Como se vê, não é à toa que Poe permaneça até hoje. Ao absorver a tragédia – a própria e a alheia – para nos devolver relatos que causam estranheza e fascínio, o autor se coloca ao lado de Guy de Maupassant, Téophile Gautier, Ambrose Bierce e tantos outros atentos observadores das minúcias secretas do cotidiano do século XIX. A diferença é que, em Poe, a criação literária se dá com rigor inédito. Embora de comportamento incorrigível, ele considera sagrada a disciplina ao escrever. Nesse sentido, é tirano, até – basta conhecer as ideias expostas em textos como A Filosofia da Composição, O Princípio Poético e Marginalia. Crítico implacável, poeta exigente e contista inventivo, Poe pratica o que prega. Os movimentos de sua pena não parecem ser senão os de um espírito tumultuado, os rodopios de uma alma insatisfeita. Os rompantes de seu texto não são senão as sinuosidades de seu temperamento. Não surpreende que ele responda por um estilo até hoje cultuado, que vai das exclamações às reticências, como o esgrimista que ataca e se defende na hora exata.
E é por esta capacidade de escrever com a própria vida que Poe se tornou, também, o grande personagem de si próprio. Antes de Roderick Usher, de Arthur Gordon Pym ou de William e Wilson, foi Poe, e ninguém mais, a principal vítima de neuroses transmutadas em atrocidades, o acossado pelas sombras, o perseguido e o perseguidor, o obcecado por aquilo que oculta o espesso véu do cotidiano. Melhor para nós que, em meio a tanto tumulto, Poe ainda tivesse tempo para empunhar a pena. E que, inacreditavelmente lúcido, conseguisse gravar no papel a marca perene do gênio. Crítica por: Oscar Nestarez Revista: Galileu Depois de uma crítica incrível, biografia e sensível sobre Poe, único e genial. Fica as nossas apresentações de capa completa que envolverá todo o conteúdo que se descobre no goticismo e segue pelo romantismo sombrio.
9 de fevereiro de 2021
Os Olhos de Eurídice - Contos
O
lugar onde duas irmãs buscaram abrigo em uma noite de tempestade não passava de
um casebre no qual o tempo já tinha devorado quase todo o alicerce, no único
cômodo que se mantinha em pé, havia quadros espalhados pelas tortuosas paredes,
as pinturas eram estranhas e passavam uma sensação angustiante.
Encolhidas em
um quanto, esperando o fim da tormenta, as irmãs observavam uma pintura ainda
presa ao cavalete, logo abaixo uma inscrição do que era mostrado na tela, entre
os clarões dos raios que passavam por entre as rachaduras, puderam ler e
perceber que ele contava também a história de duas irmãs.
Eurídice
era uma mulher já idosa, no alto de seus oitenta anos, viveu plenamente, mesmo na
pobreza, buscara tirar o melhor de tudo. Tinha diante de seus olhos a conquista
ao sabor do vento, de coisas e pessoas insignificantes, mas verdadeiras.
Nada a
impedia de ajudar a quem precisasse, sua aura refletida pelo olhar, emanava o
mais alto grau da simplicidade, seus olhos mostravam até mesmo a contemplação
do infinito, tudo isso resguardado pelas rugas de seu rosto.
Sua irmã, Maria, desejava mais que qualquer coisa, o poder de ver o mundo através daquele olhar. Para conseguir algo mostrava olhos de cobiça e inveja, não conseguia arrancar palavras de admiração sincera de ninguém, já que para ajudar o próximo, fazia apenas para satisfazer os seus próprios interesses.
Maria então decidiu que queria ter a sensação plena dos olhos de Eurídice, talvez a irmã mais velha não tivesse mais muito tempo pela frente e aquele olhar fluído de perpétua paz, estaria para sempre, perdido. Convidou então a irmã para posar para um retrato, seria uma homenagem singela e um presente para ela. Eurídice que nunca percebera o olhar malévolo da irmã, concordou, mas pediu que o quadro foi feito em sua pequena casa, pois mostraria assim a forma simples em que vivia.
Ao chegar no quarto, Maria foi tomada de súbito, pelos mais terríveis sentimentos, raiva, cobiça, ódio em estado puro, na sua frente não tinha mais que uma cama e uma cômoda, objetos simples, nada que despertasse o interesse, mas em Maria, ardia o desejo inexplicável de ter tudo aquilo.
Ao
posar para o retrato, Eurídice ficava defronte a irmã, parecia estar rodeada
por um estado de graça que cobria todo o ambiente, seus olhos refletiam a
imagem da irmã enquanto pintava, mostrando o reflexo do desespero, ira,
maledicência e sobretudo, da ambição.
Conforme as horas iam passando, Maria estava cada vez mais obcecada nos olhos de Eurídice, a cada pincelada, um pedido era feito do fundo de sua alma para que pudesse viver daquela maneira pelo menos uma vez, enquanto a irmã posava, seu olhar estático fazia à vontade já sobre-humana aumentar, chegando ao ponto de Maria se levantar e gritar, dizendo que tinha terminado e enfim, conseguido.
Em completo êxtase, desabou morta ao chão, Eurídice ao examinar o quadro, notou que a irmã pintara um autorretrato, mas com os seus olhos no lugar dos olhos dela.
Em
completo êxtase, desabou morta ao chão, Eurídice ao examinar o quadro, notou que
a irmã pintara um autorretrato, mas com os seus olhos no lugar dos olhos dela.
Os Olhos de Eurídice
Evelyn Veiga
15 de novembro de 2020
Dica de Leitura - Histórias para Ler e Morrer de Medo
Histórias para ler e morrer de medo
Antologia
Sinopse:
Existem histórias que foram contadas e passadas de pai para filho e que com o tempo tornaram-se fictícias, mas que originaram-se de histórias verdadeiras, como no caso da Loira do Banheiro e tantas outras que hoje não passam de lendas urbanas.
Em "Histórias para ler e morrer de medo", organizada pelo escritor, editor e ativista cultural Ademir Pascale, o leitor encontrará histórias que farão até os mais corajosos estremecerem.
O livro conta com 19 autores, incluindo esta moça que vos escreve neste blog.
Separei o meu conto mas também tem no e-book completo.
4 de novembro de 2020
Contos: O Jardim da Casa Desconhecida
Já estava entardecendo, mas eu ainda conseguia ver o jardim. Despertei em
meio a uma
paisagem natural, um bosque com trilhas, árvores e pedras ao redor, o meu olhar
se perdia por entre pinheiros, bétulas, tílias, carvalhos que pareciam ter
séculos de idade e salgueiros com seus ramos longos e pendentes.
Ao
meu redor vários arbustos, veigelas floridas se destacavam fazendo o contorno
dos troncos das árvores, hortênsias, narcisos, violetas, jasmins, gerânios, sálvias-vermelhas,
lavandas, margaridas, verbenas e camélias adornavam um lago coberto por
ninfeias e vitórias-régias, além de muitos outros elementos que cresciam sem nenhuma
intervenção humana. Ao levantar, notei estar cercado por esculturas de gesso, estranhas
estátuas de homens e mulheres velhos, vestiam roupas comuns, um menino com uma boina
e sapatos gastos, uma menina de vestido, tinha lágrimas escorrendo pelo rosto e
se agarrava a uma boneca, todos pareciam ter uma expressão de profunda tristeza
e sofrimento.Olhando a paisagem percebi uma coisa, não me lembrava de como tinha chegado até este lugar, de ter saído para caminhar, passado pelas árvores e de me deitar em meio a clareira. Quando fiquei totalmente desperto, não via ou ouvia nenhum animal, em meio a tantas flores não escutava abelhas zumbindo, besouros ou grilos voando sobre as folhas, nem mesmo aranhas tecendo suas emaranhadas teias e no lago não havia peixes, sapos ou salamandras, nem mesmo libélulas dançavam na superfície da água.
Parei
um pouco para reorganizar as ideias, busquei olhar mais à frente, para o
horizonte, talvez assim conseguisse me localizar além do bosque, olhava para
cima, não sabia a hora exata, mas naquele momento o céu é uma aquarela de
infinitas cores. Um vislumbre ver sol e lua ao mesmo tempo, a dama de prata surgindo
ao leste, o sol já se pondo ao oeste e para o meu contentamento, embaixo do
círculo dourado que estava ficando com tons de laranja e vermelho, estava a
silhueta gigantesca de uma construção, primeiro monumento feito pelo homem que avistava
em meio a natureza.
Eu provavelmente devia ter vindo de lá, pois não conseguia identificar nenhuma outra edificação em nenhuma outra direção. Talvez, ao me afastar demasiadamente da casa, eu tenha parado para descansar, caído em sono profundo e conseguido despertar apenas ao entardecer.
Eu provavelmente devia ter vindo de lá, pois não conseguia identificar nenhuma outra edificação em nenhuma outra direção. Talvez, ao me afastar demasiadamente da casa, eu tenha parado para descansar, caído em sono profundo e conseguido despertar apenas ao entardecer.
Mesmo
aliviado por ter para onde ir e seguir a diante pelo caminho da alameda, fui
tomado por um sentimento de tensão, a cada passo dado, sentia como se alguém ou
alguma coisa me observasse, tentava não alimentar essa sensação pois não havia
ser neste lugar que caminhasse além de mim, não havia vida humana neste bosque
além da minha. Deixei os temores de lado e comecei a andar para alcançar a
casa, pelo tamanho monumental do contorno que ela projetava no horizonte parecia
ser uma mansão com muitos cômodos.
Segui andando, mas, algo peculiar acontecia, apesar de caminhar bastante e de sentir o tempo passar, não parecia nem um pouco que tinha me aproximado da casa, sua posição era a mesma, ao olhar para o céu, o sol ainda não tinha se posto, o tom alaranjado e vermelho já estavam me deixando nervoso, a lua não chegou no seu apogeu, o véu da noite não cobriu o céu, tão pouco trouxe a resplandescência das outras estrelas. O céu que contemplei com tamanha admiração há pouco tempo, era o mesmo que naquele instante me deixava incomodado e aflito.
A paisagem antes exuberante que me despertava atenção também já estava perdendo o seu brilho, pois seguia incessantemente e nada parecia mudar, as mesmas flores, a mesma trilha. Percebi algo perturbador, o lago não tinha borda, não enxergava caminho para chegar até a margem, naquele espaço só existia escuridão.
Não tinha como eu estar andando em círculos, a estrada não fazia curvas, a casa, ou seja, lá o que aquilo fosse, continuava no horizonte, sol e lua ganharam um aspecto detestável de minha parte, não se moveram nem por um momento de seus lugares, eles, juntamente com as estátuas, flores e árvores eram privilegiadas ao assistirem a minha caminhada desafortunada.
Por um tempo fiquei sem saber o que fazer, não sabia se pernoitava no caminho e continuava na manhã seguinte, com a luz do dia para me guiar ou se continuava dessa forma, caminhando sem chegar a lugar algum. De repente pensei na possiblidade de passar a noite aqui, mesmo que não tivesse visto nada que pudesse ameaçar a minha vida, tinha essa sensação horrível e sufocante, o ar denso, sem vento, junto as estátuas me observando, devia ser ainda pior na escuridão e no silêncio da madrugada. Decidi então ir caminhando, mesmo indo devagar pela trilha era melhor do que ficar parado.
No fim de tarde é costume ventos do leste abrandarem o calor, mas, nem mesmo uma brisa balançava as árvores, pareciam feitas de pedra, seriam mais bonitas com o farfalhar das folhas, com o cantar dos pássaros em seus galhos, com o voo de joaninhas e borboletas pelas plantas, mas, nada acontecia, sentia um enorme cansaço, mesmo achando que adormeci por várias horas, minhas forças se dissipavam.
O estado em que as coisas se encontravam era tão bizarro que fiquei sem tomar nenhuma atitude relevante além de caminhar, tinha perdido a noção do tempo, caminhava como se fosse uma missão a realizar, uma sentença a cumprir, por um momento me sentia conformado, mas, isso mudara em um instante, pois mais à frente, o medo voltou a tomar meu corpo, o sentimento de pavor tomava a minha mente por completo, notava alguém muito próximo de mim e tive a nítida impressão de ter sido tocado, de súbito me virei para trás como se algo estivesse lá, mas não havia ninguém, olhava para os lados, procurando alguém à espreita, mas, nada. Os únicos olhos além dos meus eram os das estátuas, a mais próxima era de uma criança, uma menina de vestido, sapatilhas e tranças no cabelo, com o rosto voltado para cima, olhos suplicantes para o céu, céu este que nem queria mais contemplar.
Segui andando, mas, algo peculiar acontecia, apesar de caminhar bastante e de sentir o tempo passar, não parecia nem um pouco que tinha me aproximado da casa, sua posição era a mesma, ao olhar para o céu, o sol ainda não tinha se posto, o tom alaranjado e vermelho já estavam me deixando nervoso, a lua não chegou no seu apogeu, o véu da noite não cobriu o céu, tão pouco trouxe a resplandescência das outras estrelas. O céu que contemplei com tamanha admiração há pouco tempo, era o mesmo que naquele instante me deixava incomodado e aflito.
A paisagem antes exuberante que me despertava atenção também já estava perdendo o seu brilho, pois seguia incessantemente e nada parecia mudar, as mesmas flores, a mesma trilha. Percebi algo perturbador, o lago não tinha borda, não enxergava caminho para chegar até a margem, naquele espaço só existia escuridão.
Não tinha como eu estar andando em círculos, a estrada não fazia curvas, a casa, ou seja, lá o que aquilo fosse, continuava no horizonte, sol e lua ganharam um aspecto detestável de minha parte, não se moveram nem por um momento de seus lugares, eles, juntamente com as estátuas, flores e árvores eram privilegiadas ao assistirem a minha caminhada desafortunada.
Por um tempo fiquei sem saber o que fazer, não sabia se pernoitava no caminho e continuava na manhã seguinte, com a luz do dia para me guiar ou se continuava dessa forma, caminhando sem chegar a lugar algum. De repente pensei na possiblidade de passar a noite aqui, mesmo que não tivesse visto nada que pudesse ameaçar a minha vida, tinha essa sensação horrível e sufocante, o ar denso, sem vento, junto as estátuas me observando, devia ser ainda pior na escuridão e no silêncio da madrugada. Decidi então ir caminhando, mesmo indo devagar pela trilha era melhor do que ficar parado.
No fim de tarde é costume ventos do leste abrandarem o calor, mas, nem mesmo uma brisa balançava as árvores, pareciam feitas de pedra, seriam mais bonitas com o farfalhar das folhas, com o cantar dos pássaros em seus galhos, com o voo de joaninhas e borboletas pelas plantas, mas, nada acontecia, sentia um enorme cansaço, mesmo achando que adormeci por várias horas, minhas forças se dissipavam.
O estado em que as coisas se encontravam era tão bizarro que fiquei sem tomar nenhuma atitude relevante além de caminhar, tinha perdido a noção do tempo, caminhava como se fosse uma missão a realizar, uma sentença a cumprir, por um momento me sentia conformado, mas, isso mudara em um instante, pois mais à frente, o medo voltou a tomar meu corpo, o sentimento de pavor tomava a minha mente por completo, notava alguém muito próximo de mim e tive a nítida impressão de ter sido tocado, de súbito me virei para trás como se algo estivesse lá, mas não havia ninguém, olhava para os lados, procurando alguém à espreita, mas, nada. Os únicos olhos além dos meus eram os das estátuas, a mais próxima era de uma criança, uma menina de vestido, sapatilhas e tranças no cabelo, com o rosto voltado para cima, olhos suplicantes para o céu, céu este que nem queria mais contemplar.
Não
sei se minha mente estava a pregar peças ou a me alertar, se o meu cansaço me
traía ou me ajudava. Em questão de segundos, por puro instinto, comecei a
correr, mas de maneira displicente não fui muito longe, tropecei, no meio do
caminho tinha uma pedra, tentei ficar de pé, mas em vão, não consegui conter a
queda e me lancei em direção as flores, belos montes de violetas e lavandas
amorteceram meu corpo, já as pobres coitadas ficaram destruídas, despetaladas,
com os ramos quebrados e as folhas caíram no chão. Consegui levantar, atordoado,
pensei em praguejar e amaldiçoar o lugar, mas eu não precisava, já era um local
maldito sem o desejo de ninguém. No entanto, depois desse evento, alguma coisa
aconteceu.
Quase que imediatamente, uma forte ventania balançou tudo ao meu redor, me lançando em direção a silhueta da casa e, tamanha a surpresa, a paisagem tinha mudado, finalmente avistei algo inédito, o fim da alameda. Cheguei em um círculo gramado e no meio um enorme arco gótico, esculpido e ornamentado com flores, embaixo, uma távola redonda com vasos cheios de belíssimas rosas. Seguindo o novo caminho, largo, delimitado por canteiros de murtas e com uma grande escadaria que descia em direção a outro jardim, este parecia estar sobe os cuidados de alguém e o melhor de tudo, a mansão parecia estar mais próxima.
Os caminhos estavam bem definidos, de contornos rígidos com cercas vivas de formas geométricas planejadas, os arbustos compactos, perfeitamente cortados eram de um verde tão escuro e denso que pareciam ter sidos pintados à mão.
Quase que imediatamente, uma forte ventania balançou tudo ao meu redor, me lançando em direção a silhueta da casa e, tamanha a surpresa, a paisagem tinha mudado, finalmente avistei algo inédito, o fim da alameda. Cheguei em um círculo gramado e no meio um enorme arco gótico, esculpido e ornamentado com flores, embaixo, uma távola redonda com vasos cheios de belíssimas rosas. Seguindo o novo caminho, largo, delimitado por canteiros de murtas e com uma grande escadaria que descia em direção a outro jardim, este parecia estar sobe os cuidados de alguém e o melhor de tudo, a mansão parecia estar mais próxima.
Os caminhos estavam bem definidos, de contornos rígidos com cercas vivas de formas geométricas planejadas, os arbustos compactos, perfeitamente cortados eram de um verde tão escuro e denso que pareciam ter sidos pintados à mão.
Nessa
parte do jardim, ciprestes podados em triângulos agudos, surgindo mais à
frente, bancos adornados com pedras pretas, colunas elevadas com os topos
cobertos de rosas e grandes globos luminosos. As únicas coisas que restaram do
jardim anterior foram as estátuas, mas estas eram maiores, mais bonitas e
feitas de mármore, corpos de mulheres de esplêndida beleza em trajes
cerimoniais e homens com grande estatura e músculos aparentes, ao olhar atentamente
para elas, percebei uma característica das estátuas vistas no bosque, todas
elas possuíam semblante triste e desesperado, como se no momento em que foram
esculpidas, estivessem olhando para a morte.
Os espaços a minha frente foram milimetricamente pensados, estava certo de que os monumentos foram construídos por mãos humanas, assim como a mansão, fazendo com que os jardins fossem uma extensão da casa, ela já aparecia além do contorno, tinha janelas imensas, adornadas por esculturas de pedra e com vidros completamente pretos, no entanto, ainda não conseguia ver como chegar até ela.
Os traçados dos caminhos foram cobertos com cimento e placas de cerâmica, delimitados por cercas vivas muito fortes, com estrutura lenhosas, feitas de viburno podado, formando um canteiro perfeito para a as flores, essas, bem diferentes, não cresciam mais sozinhas a esmo pelo chão, foram escolhidas para harmonizar o espaço, para serem esculpidas e comportadas em cachepôs, vasos decorados e canteiros de vários metros de extensão e altura. Rosas brancas, rosas do éden, amarelas e vermelhas, enormes e com espinhos maiores ainda, caules tão verdes que nem se assemelhavam a algo natural, mas sim com estruturas de ferro e com folhas gigantescas.
Os espaços a minha frente foram milimetricamente pensados, estava certo de que os monumentos foram construídos por mãos humanas, assim como a mansão, fazendo com que os jardins fossem uma extensão da casa, ela já aparecia além do contorno, tinha janelas imensas, adornadas por esculturas de pedra e com vidros completamente pretos, no entanto, ainda não conseguia ver como chegar até ela.
Os traçados dos caminhos foram cobertos com cimento e placas de cerâmica, delimitados por cercas vivas muito fortes, com estrutura lenhosas, feitas de viburno podado, formando um canteiro perfeito para a as flores, essas, bem diferentes, não cresciam mais sozinhas a esmo pelo chão, foram escolhidas para harmonizar o espaço, para serem esculpidas e comportadas em cachepôs, vasos decorados e canteiros de vários metros de extensão e altura. Rosas brancas, rosas do éden, amarelas e vermelhas, enormes e com espinhos maiores ainda, caules tão verdes que nem se assemelhavam a algo natural, mas sim com estruturas de ferro e com folhas gigantescas.
No chão um caminho inteiro revestido de amor-perfeito, tulipas amarelas,
vermelhas e azuis formavam figuras geométricas, losangos, triângulos, cruzamentos,
todos iam em direção a uma grande fonte e no centro dela, um imenso chafariz de
onde jorrava água cristalina. Ao final de cada gigantesco retângulo havia pergolados
com caramanchões no topo, eu ficava parado embaixo deles para tentar recuperar
as forças, estava extremamente cansado, não tinha feito nada além de dar voltas
nesse jardim de proporções colossais, sem nenhuma esperança de conseguir sair.
Aquela poda escultural das vegetações, a simetria, estavam me deixando enjoado, centenas de metros nessa perspectiva, em meio àquela organização, sem nada fora do lugar, como tudo aquilo estava tão bem podado, aparado, vasos com arbustos completos, plantas amarradas em uma perfeição que me deixava agoniado, não existia nada, além de flores, vasos, canteiros, trilhas, encruzilhadas, fontes, estátuas, mas nenhuma simples formiga, centopeia ou lagarta passeava pelo chão, o único barulho que quebrava o silêncio era a queda d’água do chafariz.
Mesmo ao livre eu já estava sufocando, queria gritar, chamar alguém, não tinha pensado nisso antes, tinha que chamar por socorro, as pessoas que cuidavam do jardim viriam me ajudar, gritei com as forças que me restavam, mas não veio uma só alma. Mais uma vez comei a correr, apenas passando pelos caminhos intocados, sem defeitos, além de nunca ter conseguido ver alguma passagem para chegar até a casa, não tinha ponte, portão, muro, nada além de arbustos grandes, apesar de parecer mais próxima desde quando comecei essa jornada, ela ainda estava inatingível, parecia não existir ninguém dentro da casa que pudesse me ver do lado de fora, infinitas janelas, mas nenhuma aberta, cercadas por vidros intransponíveis, nada devia passar por eles, nem mesmo a minha imagem.
Então, veio a minha cabeça, uma ideia assustadora, um temor percorreu todo o meu corpo, se estava preso aqui fora sem ninguém na casa para me ver e ouvir, talvez, pessoas lá dentro estivessem presas também. E eu como um louco querendo entrar. Não havia outra explicação, empregados deviam receber ordens para deixarem as pessoas presas, sim, essa casa teria que ter empregados, alguém deveria ser encarregado de cuidar dessas malditas flores, podar os arbustos e limpar a fonte.
Comemorei cedo demais, o sentimento de derrota tomava conta de tudo, mais uma vez fiquei desnorteado, não entendo como vim parar nessa situação, não me lembrava se alguém me trouxera até aqui ou se fui convidado e vim de espontânea vontade. Não tinha mais forças, caí de joelhos e sem querer voltei a olhar para o céu, agora mudado, o sol enfim estava se pondo, a lua brilhava esplendorosa, como um pincel descarregando a tinta na água e os traços pretos azulados da noite empurravam os últimos raios vermelhos para o oeste pintando constelações magníficas por todo o céu.
Aquela poda escultural das vegetações, a simetria, estavam me deixando enjoado, centenas de metros nessa perspectiva, em meio àquela organização, sem nada fora do lugar, como tudo aquilo estava tão bem podado, aparado, vasos com arbustos completos, plantas amarradas em uma perfeição que me deixava agoniado, não existia nada, além de flores, vasos, canteiros, trilhas, encruzilhadas, fontes, estátuas, mas nenhuma simples formiga, centopeia ou lagarta passeava pelo chão, o único barulho que quebrava o silêncio era a queda d’água do chafariz.
Mesmo ao livre eu já estava sufocando, queria gritar, chamar alguém, não tinha pensado nisso antes, tinha que chamar por socorro, as pessoas que cuidavam do jardim viriam me ajudar, gritei com as forças que me restavam, mas não veio uma só alma. Mais uma vez comei a correr, apenas passando pelos caminhos intocados, sem defeitos, além de nunca ter conseguido ver alguma passagem para chegar até a casa, não tinha ponte, portão, muro, nada além de arbustos grandes, apesar de parecer mais próxima desde quando comecei essa jornada, ela ainda estava inatingível, parecia não existir ninguém dentro da casa que pudesse me ver do lado de fora, infinitas janelas, mas nenhuma aberta, cercadas por vidros intransponíveis, nada devia passar por eles, nem mesmo a minha imagem.
Então, veio a minha cabeça, uma ideia assustadora, um temor percorreu todo o meu corpo, se estava preso aqui fora sem ninguém na casa para me ver e ouvir, talvez, pessoas lá dentro estivessem presas também. E eu como um louco querendo entrar. Não havia outra explicação, empregados deviam receber ordens para deixarem as pessoas presas, sim, essa casa teria que ter empregados, alguém deveria ser encarregado de cuidar dessas malditas flores, podar os arbustos e limpar a fonte.
Comemorei cedo demais, o sentimento de derrota tomava conta de tudo, mais uma vez fiquei desnorteado, não entendo como vim parar nessa situação, não me lembrava se alguém me trouxera até aqui ou se fui convidado e vim de espontânea vontade. Não tinha mais forças, caí de joelhos e sem querer voltei a olhar para o céu, agora mudado, o sol enfim estava se pondo, a lua brilhava esplendorosa, como um pincel descarregando a tinta na água e os traços pretos azulados da noite empurravam os últimos raios vermelhos para o oeste pintando constelações magníficas por todo o céu.
Tal cena ficou impressa nos meus olhos, presa para sempre em minha mente,
não permitiria mais que o pavor e o medo me controlassem, mesmo não querendo, a
casa era o único lugar para o qual poderia ir. Comecei a pensar no que poderia ter me feito sair
do outro jardim. Depois de caminhar por horas e ver as mesmas coisas passarem
centenas de vezes, o único acontecimento diferente foi ter tropeçado e caído
sobre os arbustos e estragar algumas flores. Quem sabe o fato de ter alterado o
estado “perfeito” das coisas, tivesse perturbado a entidade que mora aqui e que
tenha montado tudo isso, pois somente um ser de outro mundo para fazer essas
coisas sem a presença de outras pessoas. Talvez ela não gostasse que mexessem
nas suas flores e estragassem seu trabalho, ficaria furiosa se pisassem na
grama tão bem cortada e arrancassem as plantas de seus vasos. Eu poderia estar
apenas tendo pensamentos loucos, mas eu não tinha mais nada a fazer a não ser
tentar.
Sendo assim, saí correndo pela grama, com chutes, arranquei vários tufos, fazendo inúmeros buracos, joguei terra pelo belo caminho polido, tirei vários picos dos ciprestes podados, pisei nas azaleias, amassei as tulipas, subi nos canteiros pisoteando as murtas com toda força, escalei as pérgolas e puxei os caramanchões, me transformei no vento forte que eu queria que aparecesse e me levasse embora.
O que mais chamava atenção nesse jardim com certeza eram as rosas, parti enraivecido para cima de todas que encontrei, com elas destruídas, certamente alguém viria e eu aproveitaria a oportunidade para fugir. Derrubei dezenas de vasos, as rosas caíam aos montes pelo chão, pisei nos ramos, arranquei pétala por pétala, rasgava e picava as folhas em milhares de pedaços, minha fúria era tanta que nem percebi que enquanto atacava era também golpeado, os espinhos furaram cada centímetro das minhas mãos, meus braços, pescoço e rosto foram cortados, o sangue manchava minhas roupas, caía nas rosas e pingava pelo caminho, mesmo depois de tudo isso nada aconteceu.
Sendo assim, saí correndo pela grama, com chutes, arranquei vários tufos, fazendo inúmeros buracos, joguei terra pelo belo caminho polido, tirei vários picos dos ciprestes podados, pisei nas azaleias, amassei as tulipas, subi nos canteiros pisoteando as murtas com toda força, escalei as pérgolas e puxei os caramanchões, me transformei no vento forte que eu queria que aparecesse e me levasse embora.
O que mais chamava atenção nesse jardim com certeza eram as rosas, parti enraivecido para cima de todas que encontrei, com elas destruídas, certamente alguém viria e eu aproveitaria a oportunidade para fugir. Derrubei dezenas de vasos, as rosas caíam aos montes pelo chão, pisei nos ramos, arranquei pétala por pétala, rasgava e picava as folhas em milhares de pedaços, minha fúria era tanta que nem percebi que enquanto atacava era também golpeado, os espinhos furaram cada centímetro das minhas mãos, meus braços, pescoço e rosto foram cortados, o sangue manchava minhas roupas, caía nas rosas e pingava pelo caminho, mesmo depois de tudo isso nada aconteceu.
Eu estava ofegante, desesperado, cansado e sangrando também, senti o
gosto de sangue descer pela garganta, eu iria morrer naquele lugar, envenenado
pelos espinhos das roseiras. Esgotado, olhei para a casa que nunca alcancei,
nem saberia se estaria a salvo se chegasse até ela, já desorientado, caminhei
lentamente até a fonte no centro, morreria, mas tinha feito um belo trabalho
destruindo aquele jardim amaldiçoado, entrei na fonte, manchei a água límpida
com meu sangue, estendi minhas mãos até o chafariz, aparei a água e bebi, os goles
pareciam infinitos, como se fosse a última vez que tomava o elixir da vida,
tirei minhas vestes e me banhei na fonte com água tingida de vermelho.
Meu corpo ficaria preso junto as estátuas para sempre, minha mente em
devaneio pensava que talvez elas tivessem sido pessoas reais antes de tudo,
desistiram de procurar uma saída e morreram. Como em um último ato de uma ópera
que termina em tragédia, mergulhei esperei pelo meu fim, mas ao invés de sentir
a morte se aproximar, o que eu vi parecia ser um milagre, cristais emergiram e
brilhavam na superfície da água, puxando o último ar de meus pulmões, me
levantei, senti uma brisa leve a soprar e tocar meu rosto molhado, a lua
pairava a cima da mansão, ao olhar para a casa, todas as janelas estavam se
abrindo, raios de uma luz extremamente branca emanavam do interior, duas
grandes portas se abriram e diante delas uma passarela de mármore ia surgindo, possuía
dezenas de metros e chegava até a fonte,
até mim.
Não acreditava no que estava vendo, mesmo assim não pensei em mais nada a não ser levantar e ir em direção a porta, me debrucei sobre o beiral, fiz uma força sobre-humana para sair da fonte. Cambaleante, andei pela passagem e chegando enfim diante das portas abertas, entrei.
Não acreditava no que estava vendo, mesmo assim não pensei em mais nada a não ser levantar e ir em direção a porta, me debrucei sobre o beiral, fiz uma força sobre-humana para sair da fonte. Cambaleante, andei pela passagem e chegando enfim diante das portas abertas, entrei.
Eu estava ofegante,
desesperado, cansado e agora sangrando também, senti o gosto de sangue descer
pela garganta, eu iria morrer nesse lugar, envenenado pelos espinhos das
roseiras. Esgotado, olhei para a casa que nunca alcancei, nem saberia se me
salvaria se chegasse até ela, já desorientado, caminhei lentamente até a fonte
no centro, morreria, mas tinha feito um belo trabalho destruindo aquele maldito
jardim, entrei na fonte, manchei a água límpida com meu sangue, estendi minhas
mão até o chafariz e aparei um pouco d’água e bebi, goles infinitos de água,
como se fosse a última vez que tomava o líquido dava a vida, tirei minhas
vestes e me banhei na fonte, agora com a água tingida de vermelho.
Como em último ato de
uma ópera que termina em tragédia, esperei pelo meu fim, mas ao invés de ver a
morte se aproximar, o que eu vi parecia ser um milagre, senti uma brisa leve
tocar meu rosto, a lua pairava em cima da mansão, ao olhar para a casa, todas
as suas janelas estavam se abrindo, no interior, luzes começaram as surgir e
como por puro encanto, duas grandes portas se abriram e diante delas uma
passarela era feita instantaneamente e chegava até a fonte, até mim.
Não acreditava no que estava vendo, mas mesmo assim não pensei em mais nada a não ser levantar e ir em direção a porta. Cambaleante, me debrucei sobre o beiral, fiz uma força sobre-humana, saí da fonte e caminhei pela passagem, cheguei até as portas abertas e entrei.
O Jardim da Casa Desconhecida
Evelyn Veiga
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