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4 de julho de 2020

O Corvo - Vídeos

O Corvo" é um poema narrativo do escritor norte-americano Edgar Allan Poe. Publicado pela primeira vez em janeiro de 1845, é conhecido principalmente por sua musicalidade, linguagem estilizada e atmosfera sobrenatural. O poema trata da visita misteriosa de um corvo falante a um homem, frequentemente identificado como estudante, que lamenta a perda de sua amada, Lenore, e progressivamente enlouquece. Sentado em um busto da Palas Atena, o corvo parece perturbar ainda mais o protagonista com sua constante repetição da expressão "nunca mais". O poema faz referência a elementos folclóricos, mitológicos, religiosos e clássicos.
Poe afirmou, em seu ensaio A Filosofia da Composição, de 1846, ter escrito o poema de maneira lógica e metódica, com a intenção de criar uma obra que agradaria tanto à crítica quanto ao gosto popular. O autor se inspirou, em parte, em um corvo falante do romance Barnaby Rudge: A Tale of the Riots of Eighty, de Charles Dickens. De maneira semelhante, Poe baseou-se no ritmo complexo e métrica do poema Lady Geraldine's Courtship, de Elizabeth Barrett, além de fazer uso da rima interna e da aliteração.
"O Corvo" foi publicado pela primeira vez, com atribuição a Poe, na edição de 29 de janeiro de 1845 do New York Evening Mirror. Sua publicação tornou seu autor popular ainda em vida, mas não lhe trouxe grande sucesso financeiro. Em pouco tempo, o poema foi republicado, parodiado e ilustrado. Há divergências na opinião crítica em relação ao caráter literário do poema, mas ele continua sendo um dos mais famosos poemas anglófonos já escritos.
Sinopse:
O Corvo é narrado por um homem, cujo nome não é mencionado, que, em uma noite sombria de dezembro, lê "curiosos tomos de ciências ancestrais", em frente a uma lareira cujo fogo estava prestes a morrer, como uma maneira de esquecer a morte de sua amada, Lenore. Uma "batida na porta do [seu] quarto" chama a sua atenção e, porque ninguém se encontrava à porta, leva sua alma a "queimar". A batida é repetida, um pouco mais alta, e ele percebe que está vindo de sua janela. Quando ele vai investigar, um corvo voa para dentro de seu quarto. Não prestando atenção ao homem, o corvo pousa sobre um busto de Palas Atena acima da porta.
Divertido com a disposição cômica séria do corvo, o homem pede que o pássaro lhe diga seu nome. A única resposta do corvo é "nunca mais" (em inglês: nevermore). O narrador fica surpreso que o corvo possa falar, embora neste momento não tenha dito mais nada. O narrador observa para si mesmo que seu "amigo", o corvo, logo voará para fora de sua vida, assim como "outros amigos voaram antes", juntamente com suas esperanças anteriores. Como se estivesse respondendo, o corvo responde novamente com "nunca mais". O narrador argumenta que o pássaro aprendeu a expressão "nunca mais" com algum "mestre infeliz" e que é a única expressão que conhece.
Mesmo assim, o narrador puxa sua cadeira diretamente na frente do corvo, determinado a aprender mais sobre o mesmo. Ele pensa por um momento em silêncio, e sua mente volta para a finada Lenore. Ele acha que o ar fica mais denso e sente a presença de anjos, e se pergunta se Deus está lhe enviando um sinal de que ele deve esquecer Lenore. O pássaro novamente responde negativamente, sugerindo que o narrador nunca poderá se libertar de suas memórias. O narrador fica zangado, chamando o corvo de "coisa maléfica" e de "profeta". Finalmente, o narrador pergunta ao corvo se ele se reunirá com Lenore no céu. Quando o corvo responde com seu típico "nunca mais", ele fica furioso e, chamando-o de mentiroso, ordena que o pássaro retorne à "costa plutoniana" — mas não se move. Presumivelmente no momento da recitação do poema pelo narrador, o corvo "ainda está sentado" no busto de Palas. A admissão final do narrador é que sua alma está presa sob a sombra do corvo e "nunca mais" será levantada.
O Corvo
Tradução de Fernando Pessoa
O Corvo
Tradução de Machado de Assis
Em inglês - Interpretação do ator Vicent Price, um dos mestres do terror.
Tradução de Fernando Pessoa
O Corvo
Versão Os Simpsons

16 de março de 2018

O Corvo - Edgar Allan Poe


O Corvo - Edgar Allan Poe 
Tradução: Machado de Assis
                   
Em certo dia, à hora, à hora

Da meia-noite que apavora,

Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."

Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia

A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora. 
E que ninguém chamará mais.
E o rumor triste, vago, brando
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido,
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto, e: "Com efeito,
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais."

Minh'alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: "Imploro de vós, — ou senhor ou senhora,
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso
Batestes, não fui logo, prestemente,
Certificar-me que aí estais."
Disse; a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.

Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.

Entro coa alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Alguma cousa que sussurra. Abramos,
Eia, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso,
Obra do vento e nada mais."

Abro a janela, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto,
Movendo no ar as suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.

Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".

No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"

Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".

Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera,
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais".

Assim posto, devaneando,
Meditando, conjeturando,
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava.
Conjeturando fui, tranquilo a gosto,
Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.

Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso,
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais,
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!”
E o corvo disse: "Nunca mais."

“Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fique no meu casto abrigo

Pluma que lembre essa mentira tua.
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua."
E o corvo disse: "Nunca mais".

E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e, fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!