17 de junho de 2022

Coelho Neto - Biografia

Henrique Maximiano Coelho Netto (Caxias, 21 de fevereiro de 1864 — Rio de Janeiro, 28 de novembro de 1934) foi um escritor (cronista, contista, folclorista, romancista, crรญtico e teatrรณlogo), polรญtico e professor brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras onde foi o fundador da Cadeira nรบmero 2. 

Foi considerado o "Prรญncipe dos Prosadores Brasileiros", numa votaรงรฃo realizada em 1928 pela revista O Malho. Apesar disto, foi consideravelmente combatido pelos modernistas, sendo pouco lido desde entรฃo, em verdadeiro ostracismo intelectual e literรกrio.
Biografia

Filho do portuguรชs Antรณnio (grafia europeia) da Fonseca Coelho com a indรญgena Ana Silvestre Coelho, que se mudaram do Maranhรฃo para o Rio de Janeiro quando o filho contava apenas seis anos de idade.

Estudou no Colรฉgio Pedro II, onde realizou os cursos preparatรณrios e ingressou na Faculdade de Medicina, que abandonou em seguida, matriculando-se em 1883 na Faculdade de Direito de Sรฃo Paulo.

No curso jurรญdico Coelho Neto expande suas revoltas, logo se envolvendo no movimento de alunos contra um professor e, para evitar represรกlias, transfere-se para a faculdade do Recife, e ali conclui o primeiro ano tendo por principal mestre Tobias Barreto.

Apรณs este lapso, retorna para Sรฃo Paulo, e logo participa de movimentos abolicionistas e republicanos, entrando em choque com os professores, nรฃo chegando a concluir o curso.

Sem se formar, retorna em 1885 para o Rio onde, ao lado de escritores como Olavo Bilac, Luรญs Murat, Guimarรฃes Passos e Paula Ney forma um grupo cujas experiรชncias vem a retratar no romance A Conquista, de 1899.

Ativo na campanha pela extinรงรฃo da escravatura, alia-se a Josรฉ do Patrocรญnio; labora como colaborador do jornal Gazeta da Tarde e, depois, para o A Cidade do Rio, onde foi secretรกrio, ocasiรฃo em que inicia a publicaรงรฃo de seus textos literรกrios.

Coelho Netto, na maturidade.

Casou-se em 1890 com Maria Gabriela Brandรฃo, filha do professor Alberto Olympio Brandรฃo, com quem teve catorze filhos. Neste mesmo ano รฉ nomeado secretรกrio de governo do estado e em 1891 ocupa a direรงรฃo de Negรณcios do Estado.

Em 1892 รฉ nomeado para o magistรฉrio de Histรณria da Arte na Escola Nacional de Belas Artes. Depois leciona literatura no Colรฉgio Pedro II; nesta atividade รฉ nomeado, em 1910, para as cรกtedras de Histรณria do Teatro e Literatura Dramรกtica na Escola de Arte Dramรกtica do Rio, da qual foi mais tarde seu diretor.

Na polรญtica tornou-se deputado federal pelo estado natal, em 1909, reeleito em 1917. Ocupou ainda diversos cargos, e integrou diversas instituiรงรตes culturais.

Em 1923 converteu-se ao Espiritismo, proferindo um discurso no Salรฃo da Guarda Velha no Rio de Janeiro sobre sua adesรฃo.Sobre a matรฉria, o "Jornal do Brasil" publicou entrevista com o escritor (7 de junho de 1923), anteriormente intransigente adversรกrio do Espiritismo, e que a ele se converteu apรณs ter participado, na extensรฃo do seu escritรณrio, de uma conversa ao telefone entre a sua neta, falecida em tenra idade, e a mรฃe dela. A 7 de junho de 1923, foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, de Portugal.

Sua vida divide-se, assim, em trรชs fases distintas: na primeira, aquela em que procura se firmar como escritor; a segunda, quando integra o movimento pela Academia, participa da polรญtica e obtรฉm reconhecimento e consagraรงรฃo e, finalmente, a terceira, na qual experimenta os ataques modernistas e o consequente esquecimento.

Academia Brasileira de Letras
Coelho Netto "operando" Artur de Azevedo, numa encenaรงรฃo que imita a Liรงรฃo de Anatomia de Rembrandt - com Olavo Bilac (que assina), entre outros intelectuais que formaram o grupo fundador da ABL.

Coelho Netto esteve ao lado de Lรบcio de Mendonรงa, idealizador da Academia Brasileira, nas primeiras reuniรตes que trataram da criaรงรฃo desta entidade literรกria, e realizadas nos dois รบltimos meses de 1896.

Foi eleito seu presidente no ano de 1926, sucedendo ร  primeira gestรฃo de Afonso Celso, e foi seguido por Rodrigo Otรกvio.

Em 1928, Coelho Neto, que havia sempre recebido hostilidades de Oswald de Andrade, emitiu um parecer em que confere ao escritor menรงรฃo honrosa no julgamento do concurso de romance da ABL; apesar de participar do movimento modernista, publicamente antiacademicista, Andrade por duas vezes concorreu a uma vaga naquele sodalรญcio.

Literatura

Em selo postal brasileiro de 1964.

Durante muitos anos, Coelho Neto foi o autor mais lido do Brasil. O autor assinava trabalhos com seu prรณprio nome e tambรฉm escrevia sob inรบmeros pseudรดnimos, como por exemplo: Anselmo Ribas, Caliban, Ariel, Amador Santelmo, Blanco Canabarro, Charles Rouget, Democ, N. Puck, Tartarin, Fur-Fur, Manรฉs.

Sua extensa obra nรฃo se prendia a um sรณ gรชnero. Escreveu romances realistas e naturalistas. Sua fecunda produรงรฃo valeu-lhe a crรญtica de ser um "fabricante de romances".

Em 1928, foi eleito Prรญncipe dos Prosadores Brasileiros, num concurso realizado pelo O Malho. Joรฃo Neves da Fontoura, no discurso de posse, traรงou-lhe o perfil: “As duas grandes forรงas da obra de Coelho Neto residem na imaginaรงรฃo e no poder verbal. [...] Havia no seu cรฉrebro, como nos teatros modernos, palcos mรณveis para as mutaรงรตes da mรกgica. ร‰ o exemplo รบnico de repentista da prosa. [...] Dotado de um dinamismo muito raro, Neto foi um idรณlatra da forma.”

Apesar disto, foi consideravelmente combatido pelos modernistas, sendo pouco lido desde entรฃo, caindo em verdadeiro ostracismo intelectual e literรกrio. Ainda hoje, muitos crรญticos literรกrios vรชem sua obra como cheia de “pompa e formalismos”, dotada de “artifรญcios retรณricos”.

Arnaldo Niskier, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras, disse sobre a relaรงรฃo do Modernismo para com o autor: "A vitรณria do modernismo se fez como se houvesse necessidade de abater um grande inimigo, no caso, Coelho Neto"

Atualmente, o autor nรฃo รฉ tรฃo conhecido pelo grande pรบblico leitor. Sua fama รฉ mais conhecida pelos estudiosos da รกrea da literatura. Seu atual anonimato dรก-se pelo fato de seu nome, bem como sua histรณria, estar ausentes da maioria dos livros didรกticos e das listas de livros exigidos pelos vestibulares.

Em A Literatura Brasileira, Alfredo Bosi escreve sobre o autor: “A fortuna crรญtica de Coelho Neto conheceu os extremos do desprezo e da louvaรงรฃo, desde “o sujeito mais nefasto que tem aparecido no nosso meio intelectual”, de Lima Barreto, a “o maior romancista brasileiro” de Otรกvio Faria.

Lima ainda chegou a publicar artigos em periรณdicos literรกrios, como a Revista Contemporรขnea e A Lanterna nos quais direciona ataques a Coelho Neto, e sua visรฃo tradicional da literatura; dizia que este preocupava-se somente com o estilo, vocabulรกrio e passava ao largo das questรตes sociais, polรญticas e morais, deixando de usar a escrita como instrumento de transformaรงรฃo social.

Em outro artigo, Barreto escreveu: "Em um sรฉculo deste, o senhor Coelho Neto ficou sendo unicamente um plรกstico, um contemplativo, magnetizado pelo Flaubert da Madame Bovary, com as suas Chinesices de estilo, querendo como os Goncourts, pintar com a palavra escrita (...) mas que nรฃo fez de seu instrumento artรญstico um veรญculo de difusรฃo das ideias de seu tempo...".

Opiniรตes
Coelho Neto, da coleรงรฃo Museu Histรณrico Nacional.

Foi dos primeiros autores a manifestar preocupaรงรตes ecolรณgicas; assim como Euclides da Cunha, escrevia contra o desmatamento e as queimadas na Amazรดnia, deixando manifestos tais como o que diz: "Com a morte das รกrvores, desaparecem as fontes: rios que rolavam รกguas abundantes derivam agora de filetes rasos e tรฃo escassos que uma quente semana de verรฃo รฉ bastante para secรก-los; a caรงa rareia".

Coelho Neto foi um dos folcloristas que, com visรฃo romรขntica, procuraram resgatar a imagem da capoeira no paรญs, atรฉ entรฃo vista como uma prรกtica de marginais, como sendo um esporte genuinamente brasileiro; defendia que fosse ensinada nas escolas e nas forรงas armadas, nestas รบltimas como tรฉcnica de defesa pessoal.

Em Sรฃo Luรญs, tem um dos bustos da Praรงa do Pantheon, que homenageiam importantes escritores e intelectuais maranhenses.

Livros