Talvez considerasse assim todos os homens, pois nunca escondeu sua
paixรฃo por animais, chegando a declarar: “quanto mais conheรงo os homens, mais
quero a meu cachorro”. “Boaswain” foi o nome de seu cachorro preferido, o
qual gostava tanto que, apรณs a morte do animal, dedicou-lhe os seguintes
versos: "Aqui repousam os restos de uma criatura que foi bela sem vaidade
forte sem insolรชncia valente sem ferocidade e teve todas as virtudes do homem e
nenhum dos seus defeitos" Conta-se tambรฉm sobre Byron que nasceu com uma
deformidade no pรฉ direito. Seus dedos eram voltados para dentro, o que lhe
dificultava muitas tarefas.
Seu pai lhe disse que nunca andaria direito, muito menos correria. Mas
Lord Byron nunca se rendeu. Jรก adulto, seu jeito de andar aliado ร
personalidade colรฉrica lhe deram uma forma รบnica de caminhar, considerada muito
elegante (e sim, chegou a correr). Ele nunca sentiu vergonha desta enfermidade,
atรฉ pelo contrรกrio. Quando as pessoas debochavam de seu pรฉ, Byron se enchia de
orgulho e respondia: “Quando um membro se debilita, sempre hรก outro que o
compensa”. O poeta faleceu em 19 de abril de 1824, na cidade de Missolonghi.
Lutava ao lado dos gregos pela independรชncia, contra a opressรฃo turca. Os
registros apontam apenas que a causa da morte foi uma uremia, com complicaรงรตes
apรณs uma febre reumรกtica.
Nรฃo recues! De mim nรฃo foi-se o espรญrito…
Em mim verรกs – pobre caveira fria –
รnico crรขnio que, ao invรฉs dos vivos,
Sรณ derrama alegria.
Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Nรฃo me insultes! empina-me!… que a
larva
Tem beijos mais sombrios do que os
teus.
Mais vale guardar o sumo da
parreira
Do que ao verme do chรฃo ser pasto
vil;
– Taรงa – levar dos Deuses a
bebida,
Que o pasto do rรฉptil.
Que este vaso, onde o espรญrito
brilhava,
Vรก nos outros o espรญrito acender.
Ai! Quando um crรขnio jรก nรฃo tem
mais cรฉrebro
…Podeis de vinho o encher!
Bebe, enquanto inda รฉ tempo! Uma
outra raรงa,
Quando tu e os teus fordes nos
fossos,
Pode do abraรงo te livrar da terra,
E รฉbria folgando profanar teus
ossos.
E por que nรฃo? Se no correr da
vida
Tanto mal, tanta dor ai repousa?
ร bom fugindo ร podridรฃo do lado
Servir na morte enfim p’ra alguma
coisa!
Trevas
(Traduรงรฃo de Castro Alves)
Eu tive um sonho que nรฃo era em
todo um sonho
O sol esplรชndido extinguira-se, e
as estrelas
Vagueavam escuras pelo espaรงo
eterno,
Sem raios nem roteiro, e a
enregelada terra
Girava cega e negrejante no ar sem
lua;
Veio e foi-se a manhรฃ – Veio e nรฃo
trouxe o dia;
E os homens esqueceram as paixรตes,
no horror
Dessa desolaรงรฃo; e os coraรงรตes
esfriaram
Numa prece egoรญsta que implorava
luz:
E eles viviam ao redor do fogo; e
os tronos,
Os palรกcios dos reis coroados, as
cabanas,
As moradas, enfim, do gรชnero que fosse,
Em chamas davam luz; As cidades
consumiam-se
E os homens juntavam-se junto ร s
casas รญgneas
Para ainda uma vez olhar o rosto
um do outro;
Felizes enquanto residiam bem ร
vista
Dos vulcรตes e de sua tocha
montanhosa;
Expectativa apavorada era a do
mundo;
Queimavam-se as florestas – mas de
hora em hora
Tombavam, desfaziam-se – e,
estralando, os troncos
Findavam num estrondo – e tudo era
negror.
ร luz desesperante a fronte dos
humanos
Tinha um aspecto nรฃo terreno, se
espasmรณdicos
Neles batiam os clarรตes; alguns,
por terra,
Escondiam chorando os olhos;
apoiavam
Outros o queixo ร s mรฃos fechadas,
e sorriam;
Muitos corriam para cรก e para lรก,
Alimentando a pira, e a vista
levantavam
Com doida inquietaรงรฃo para o
trevoso cรฉu,
A mortalha de um mundo extinto; e
entรฃo de novo
Com maldiรงรตes olhavam para a
poeira, e uivavam,
Rangendo os dentes; e aves bravas
davam gritos
E cheias de terror voejavam junto
ao solo,
Batendo asas inรบteis; as mais rudes
feras
Chagavam mansas e a tremer;
rojavam vรญboras,
E entrelaรงavam-se por entre a
multidรฃo,
Silvando, mas sem presas – e eram
devoradas.
E fartava-se a Guerra que cessara
um tempo,
E qualquer refeiรงรฃo comprava-se
com sangue;
E cada um sentava-se isolado e
torvo,
Empanturrando-se no escuro; o amor
findara;
A terra era uma idรฉia sรณ – e era a
de morte
Imediata e inglรณria; e se cevava o
mal
Da fome em todas as entranhas; e
morriam
Os homens, insepultos sua carne e
ossos;
Os magros pelos magros eram
devorados,
Os cรฃes salteavam seus donos,
exceto um,
Que se mantinha fiel a um corpo, e
conservava
Em guarda as bestas e aves e
famintos homens,
Atรฉ a fome os levar, ou os que
caรญam mortos
Atraรญrem seus dentes; ele nรฃo
comia,
Mas com um gemido comovente e
longo, e um grito
Rรกpido e desolado, e relambendo a
mรฃo
Que jรก nรฃo o agradava em paga –
ele morreu.
Finou-se a multidรฃo de fome, aos
poucos; dois,
Dois inimigos que vieram a
encontrar-se
Junto ร s brasas agonizantes de um
altar
Onde se haviam empilhado coisas
santas
Para um uso profano; eles a
resolveram
E trรชmulos rasparam, com as mรฃos
esquelรฉticas,
As dรฉbeis cinzas, e com um dรฉbil
assoprar
E para viver um nada, ergueram uma
chama
Que nรฃo passava de arremedo; entรฃo
alรงaram
Os olhos quando ela se fez mais
viva, e espiaram
O rosto um do outro – ao ver
gritaram e morreram
– Morreram de sua prรณpria e mรบtua
hediondez,
– Sem um reconhecer o outro em
cuja fronte
Grafara o nome “Diabo”. O mundo se
esvaziara,
O populoso e forte era uma informe
massa,
Sem estaรงรตes nem รกrvore, erva,
homem, vida,
Massa informe de morte – um caos
de argila dura.
Pararam lagos, rios, oceanos: nada
Mexia em suas profundezas
silenciosas;
Sem marujos, no mar as naus
apodreciam,
Caindo os mastros aos pedaรงos; e,
ao caรญrem,
Dormiam nos abismos sem fazer
mareta,
mortas as ondas, e as marรฉs na
sepultura,
Que jรก findara sua lua senhoril.
Os ventos feneceram no ar inerte,
e as nuvens
Tiveram fim; a escuridรฃo nรฃo
precisava
De seu auxรญlio – as trevas eram o
Universo.
O Oceano
(Traduรงรฃo de Castro Alves)
Rola, Oceano profundo e azul
sombrio, rola!
Caminham dez mil frotas sobre ti,
em vรฃo;
de ruรญnas o homem marca a terra,
mas se evola
na praia o seu domรญnio. Na รบmida
extensรฃo
sรณ tu causas naufrรกgios; nรฃo, da
destruiรงรฃo
feita pelo homem sombra alguma se
mantรฉm,
exceto se, gota de chuva, ele
tambรฉm
se afunda a borbulhar com seu
gemido,
sem fรฉretro, sem tรบmulo,
desconhecido.
Do passo do hรก traรงos em teus
caminhos,
nem sรฃo presas em teus campos.
Ergues-te e o sacodes
de ti; desprezas os poderes tรฃo
mesquinhos
que usa para assolar a terra, jรก
que podes
de teu seio atirรก-lo aos cรฉus;
assim o lanรงas
tremendo uivando em teus borrifos
escarninhos
rumo a seus deuses – nos quais
firma as esperanรงas
de achar um portou angra prรณxima,
talvez –
e o devolves รก terra: – jaza aรญ,
de vez.
Os armamentos que fulminam as
muralhas
das cidades de pedra – e tremem as
naรงรตes
ante eles, como os reis em suas
capitais – ,
os leviatรฃs de roble, cujas
proporรงรตes
levam o seu criador de barro a se
apontar
como Senhor do Oceano e รกrbitro
das batalhas,
fundem-se todos nessas ondas tรฃo
fatais
para a orgulhosa Armada ou para
Trafalgar.
Tuas bordas sรฃo reinos, mas o
tempo os traga:
Grรฉcia, Roma, Catargo, Assรญria,
onde รฉ que estรฃo?
Quando outrora eram livres tu as
devastavas,
e tiranos copiaram-te, a partir de
entรฃo;
manda o estrangeiro em praias
rudes ou escravas;
reinos secaram-se em desertos,
nesse espaรงo,
mas tu nรฃo mudas, salvo no florear
da vaga;
em tua fronte azul o tempo nรฃo pรตe
traรงo;
como รฉs agora, viu-te a aurora da criaรงรฃo.
Tu, espelho glorioso, onde no
temporal
reflete sua imagem Deus
onipotente;
calmo ou convulso, quando hรก brisa
ou vendaval,
quer a gelar o pรณlo, quer em cima
ardente
a ondear sombrio, – tu รฉs sublime
e sem final,
cรณpia da eternidade, trono do
Invisรญvel;
os monstros dos abismos nascem do
teu lodo;
insondรกvel, sozinho avanรงas, รฉs
terrรญvel.
Amei-te, Oceano! Em meus folguedos
juvenis
ir levado em teu peito, como tua
espuma,
era um prazer; desde meus tempos
infantis
divertir-me com as ondas dava-me
alegria;
quando, porรฉm, ao refrescar-se o
mar, alguma
de tuas vagas de causar pavor se
erguia,
sendo eu teu filho esse pavor me
seduzia
e era agradรกvel: nessas ondas eu
confiava e,
como agora, a tua juba eu alisava.
Alegria nรฃo hรก que o mundo dรช,
como a que tira.
Quando, do pensamento de antes, a
paixรฃo expira
Na triste decadรชncia do
sentir;
Nรฃo รฉ na jovem face apenas o
rubor
Que esmaia rรกpido, porรฉm do
pensamento a flor
Vai-se antes de que a prรณpria
juventude possa ir.
Alguns cuja alma boia no naufrรกgio
da ventura
Aos escolhos da culpa ou mar do
excesso sรฃo levados;
O รญmรฃ da rota foi-se, ou sรณ e em
vรฃo aponta a obscura
Praia que nunca atingirรฃo os panos
lacerados.
Entรฃo, frio mortal da alma, como a
noite desce;
Nรฃo sente ela a dor de outrem, nem
a sua ousa sonhar;
toda a fonte do pranto, o frio a
veio enregelar;
Brilham ainda os olhos: รฉ o gelo
que aparece.
Dos lรกbios flua o espรญrito, e a
alegria o peito invada,
Na meia-noite jรก sem esperanรงa de
repouso:
ร como na hera em torno de uma
torre jรก arruinada,
Verde por fora, e fresca, mas por
baixo cinza anoso.
Pudesse eu me sentir ou ser como
em horas passadas,
Ou como outrora sobre cenas idas
chorar tanto;
Parecem doces no deserto as
fontes, se salgadas:
No ermo da vida assim seria para
mim o pranto.
A Inรชs
Nรฃo me sorrias ร sombria fronte,
Ai! sorrir eu nรฃo posso novamente:
Que o cรฉu afaste o que tu chorarias
E em vรฃo talvez chorasses, tรฃo somente.











