16 de junho de 2024

Dica de Leitura: Eu sou Ozzy - A autobiografia

A LENDÁRIA AUTOBIOGRAFIA DO PRÍNCIPE DAS TREVAS ESTÁ DE VOLTA AO BRASIL!

As pessoas me perguntam como eu ainda estou vivo, e eu não sei o que dizer. Quando eu estava crescendo, se você me colocasse contra uma parede com os outros garotos da minha rua e me perguntasse qual de nós chegaria aos sessenta anos, com cinco filhos e quatro netos e casas em Buckinghamshire e Califórnia, eu não teria apostado dinheiro em mim – de jeito nenhum.
Mas aqui estou eu: pronto para contar minha história, com minhas próprias palavras.
Muito disso não vai ser bonito. Eu fiz algumas coisas ruins no meu tempo. Mas eu não sou o diabo. Sou apenas John Osbourne: um garoto da classe trabalhadora de Aston, que largou o emprego na fábrica e foi procurar diversão e criou uma banda chamada Black Sabbath.
Diziam que eu nunca escreveria este livro. Bom, que se fodam ― porque aqui está ele.
“Um relato franco e honesto que vai fazer você rir alto. Brilhante.”
The Sun
Já houve uma história de estrela do rock mais extraordinária do que a de Ozzy Osbourne? Nascido em uma vida tão pobre que toda a família dormia em um quarto, Ozzy teve uma educação difícil. A música o salvou e sua banda Black Sabbath mudou a cena do rock para sempre. Mas junto com o rock veio o inevitável sexo e drogas e Ozzy caiu em um longo relacionamento com substâncias viciantes.
As histórias dos dias de Ozzy na estrada são lendárias – mordendo a cabeça de um morcego vivo, perdendo seu melhor amigo e parceiro de escrita Randy Rhoades em um trágico acidente de avião. Mas poucos sabem do verdadeiro desgosto que ele sofreu durante aqueles dias de excesso.
No final, o amor que o salvou: o amor de sua esposa Sharon e dos filhos Kelly, Jack e Aimee. Nessa autobiografia que fez história, Ozzy vem limpo e divertido: em todos os sentidos.
“Leitura obrigatória para os fãs da insanidade do rock ‘n rol.”
Sunday

“Extremamente divertida, às vezes dolorosamente franca.”
Uncut

“Empolgante, divertido e triste ao mesmo tempo.”
Q Magazine

Trecho. © Reimpressão autorizada. Todos os direitos reservados

John, o Ladrão

Meu pai sempre disse que eu iria fazer algo importante algum dia. “Sinto isso, John Osbourne”, ele me dizia, depois de algumas cervejas. “Ou você vai fazer algo muito especial ou vai acabar na cadeia.” E ele estava certo, meu velho pai. Fui parar na cadeia antes de completar dezoito anos.
Roubo ― foi por isso que acabei lá. Ou, como estava escrito no documento de acusação: “Invasão de domicílio e roubo de bens no valor de £25”. O que equivale a umas trezentas libras nos dias de hoje. Não foi exatamente o Assalto ao Trem Pagador, podemos dizer. Eu era um ladrão ruim pra caralho. Quis fazer o mesmo “trabalho” várias vezes.
Roubei uma loja de roupas chamada Sarah Clarke’s, na rua atrás da minha casa, em Aston. Na primeira vez, agarrei um monte de roupas penduradas em cabides e pensei: Maravilha, vou poder vender essas coisas no pub. Mas esqueci de levar uma lanterna e as roupas que roubei eram babadores e roupinhas de bebê. Eu deveria ter tentado vender o cocô junto.
Assim, eu voltei. Dessa vez levei uma televisão de vinte e quatro polegadas. Mas a porra da TV era muito pesada e, quando estava tentando subir na parede de trás, ela caiu sobre meu peito e não consegui me mexer por quase uma hora. Fiquei deitado lá naquele lugar sujo, me sentindo um otário. Era como o Mr. Magoo drogado, isso sim. No final, consegui tirar a TV de cima de mim, mas tive de deixa‑la ali.
Na terceira tentativa, consegui roubar umas camisas. Até tive a brilhante ideia de usar um par de luvas, como um verdadeiro profissional. O único problema era que uma das luvas não tinha o dedão, e assim deixei perfeitas impressões digitais por todos os lados. Os policiais vieram até minha casa uns dias depois e encontraram as luvas e minha pilha de mercadorias. “Uma luva sem o dedão, hein?”, disse o policial, enquanto me algemava. “Você não é exatamente um Einstein, né?” Mais ou menos uma semana depois, me levaram ao tribunal e fui multado em quarenta libras pelo juiz. Era mais do que já tinha ganho em toda a minha vida. Nunca conseguiria pagar, a menos que roubasse um banco... ou que meu pai me emprestasse. Mas o velho não quis me ajudar.
― Ganho um salário honesto ― ele falou. ― Por que deveria lhe dar esse dinheiro? Você precisa aprender essa lição.
― Mas pai...
― É para seu próprio bem, filho.
Fim da conversa.
O juiz me sentenciou a três meses em Winson Green por “falta de pagamento da multa”. Quase caguei nas calças quando me contaram que ia para a prisão, para ser honesto. Winson Green era uma antiga instituição correcional vitoriana, que fora construída em 1849. Os presos eram conhecidos por sua violência. Na verdade, o inspetor‑chefe das prisões de todo o país afirmou, mais tarde, que Winson Green era o buraco mais violento, fedido e desregrado que já tinha visto. Eu implorei para meu pai pagar a multa, mas ele continuou dizendo que ficar preso talvez enfiasse um pouco de bom senso em mim.
Como a maioria dos jovens que começam no crime, eu só queria ser aceito por meus amigos. Achei que seria legal me tornar um cara mau, então foi o que tentei ser. Mas logo mudei de ideia quando entrei em Winson Green. Na recepção, meu coração estava batendo tão alto e rápido que achei que ia pular do peito e cair no chão de concreto. Os policiais esvaziaram meus bolsos e colocaram todas as minhas coisas num saco plástico ― carteira, chaves, cigarros ―, e riram muito do meu cabelo comprido.
― Os rapazes do Bloco H vão amar ― um deles sussurrou para mim. ― Divirta‑se no chuveiro, docinho. Não tinha ideia do que ele queria dizer. Mas logo descobri.
A menos que sua ambição seja trabalhar numa fábrica, se matar no turno noturno de uma linha de montagem, não há muito mais para fazer em Aston. Os únicos empregos que existem estão nas fábricas. E as casas não têm banheiro interno, além de estarem caindo aos pedaços. Como muitos tanques, caminhões e aviões foram feitos nas Midlands durante a guerra, Aston foi muito atacada durante a Blitz. Em cada esquina, quando eu era criança, havia “lugares bombardeados” ― casas que tinham sido destruídas pelos alemães quando estavam tentando acertar a fábrica Castle Bromwich Spitfire. Durante anos, achei que “lugares bombardeados” era o nome que se dava aos playgrounds.
Nasci em 1948 e cresci no número 14 de uma fileira de casas geminadas em Lodge Road. Meu pai, John Thomas, era mestre ferramenteiro e trabalhava à noite na GEC, em Witton Lane. Todos o chamavam de Jack, pois, por alguma razão, este era um apelido comum para John, na época. Ele sempre me contava sobre a guerra
― como quando estava trabalhando em King’s Stanley, Gloucestershire, no começo dos anos 40. Toda noite, os alemães bombardeavam toda a porra de Coventry, que ficava a uns oitenta quilômetros. Lançavam explosivos e minas com paraquedas, e a luz dos incêndios era tão forte que meu pai conseguia ler o jornal durante o blecaute. Quando eu era criança, nunca entendi realmente como tudo aquilo deve ter sido difícil. Imaginem isso: as pessoas iam dormir à noite sem saber se suas casas estariam de pé na manhã seguinte.
A vida depois da guerra não era muito mais fácil, podem acreditar. Quando meu pai chegava em casa de manhã, após uma noite de trabalho na GEC, minha mãe, Lillian, começava seu turno na fábrica Lucas. Era uma rotina destruidora de merda, todo dia. Mas nunca ouvi nenhum dos dois reclamando.
Minha mãe era católica, mas não muito religiosa. Nenhum Osbourne frequentava a igreja ― apesar de eu ter ido durante um tempo à escola dominical da Igreja Anglicana, porque era a única merda que tinha para fazer e eles davam chá e biscoitos de graça. Todas aquelas manhãs lendo as histórias da Bíblia e desenhando o Menino Jesus não me ajudaram em nada. Não acho que o padre sentiria orgulho desse ex‑aluno, digamos. Domingo era o pior dia da semana para mim. Eu era do tipo de garoto que sempre queria se divertir e não havia muito a fazer em Aston.
Só o céu cinzento, pubs nas esquinas e pessoas que pareciam doentes de tanto trabalhar como animais na linha de montagem. Havia muito orgulho por ser parte da classe trabalhadora. As pessoas até colocavam aqueles tijolos de pedra falsos na parte de fora das casas, para parecer que estavam vivendo na porra do Castelo de Windsor. Só faltava o fosso e a ponte levadiça. A maioria das casas era geminada, como a nossa, de modo que a fachada de uma terminava onde começava a da outra. Era muito feio. Eu era o quarto filho e o primeiro homem. Minhas três irmãs mais velhas eram Jean, Iris e Gillian. Não sei quando meus pais encontravam tempo para transar, mas não demorou para eu ter outros dois irmãos mais novos, Paul e Tony. Então, éramos seis na Lodge Road 14. Era um pandemônio. Como disse, não havia banheiro dentro da casa, no começo, só um penico embaixo da cama. Jean, a mais velha, acabou tendo um quarto próprio, num anexo ao fundo. O resto de nós precisava compartilhar, até Jean crescer e se casar, quando o seguinte na linha sucessória ocupou seu lugar.
Eu tentava ficar fora do caminho das minhas irmãs na maior parte do tempo. Elas estavam sempre brigando, como as meninas fazem, e eu não queria ser pego no fogo cruzado. Mas Jean sempre se esforçou por cuidar de mim. Ela funcionava quase que como outra mãe. Até hoje em dia conversamos por telefone todo domingo, não importa onde eu esteja. Não sei o que teria feito sem Jean, para ser honesto, porque eu era muito nervoso. O medo do desastre iminente sempre dominou minha vida. Eu me convenci de que, se pisasse nas rachaduras que havia na calçada enquanto voltava para casa, minha mãe morreria. E quando meu pai estava dormindo durante o dia, eu começava a achar que ele estava morto e tinha de cutucá‑lo para ter certeza de que ainda estava respirando. Ele não gostava nem um pouco disso, posso garantir. Mas todas essas coisas loucas ficavam girando na minha cabeça. Eu sentia medo a maior parte do tempo.
Até mesmo minha primeira lembrança é de medo. Era 2 de junho de 1953: Dia da Coroação da Rainha Elizabeth. Naquela época, meu pai adorava Al Jolson, a estrela de vaudeville norte‑americana. Meu velho cantava as músicas de Jolson pela casa, repetia as piadas dele, até se vestia como ele quando podia.
E Al Jolson era mais famoso por essas apresentações com o rosto pintado de negro ― o tipo de coisa politicamente incorreta, como dizem hoje. Então meu pai pediu para minha tia Violet fazer um par de ternos para que eu e ele usássemos durante as comemorações da Coroação. Eram ótimos, esses ternos. A tia Violet até nos conseguiu chapéus e gravatas combinando, além de bengalas vermelhas e brancas. Mas quando meu pai desceu com o rosto pintado de negro, eu fiquei completamente louco. Comecei a gritar e chorar: “O que você fez com ele? Devolva meu pai!”. Não parei até alguém explicar que ele só estava usando cera de sapato. Aí tentaram colocar um pouco em mim e eu voltei a ficar doido. Não deixei colocarem nada em mim. Achei que ia ficar grudado para sempre.
― Não! Não! Não! Naoooooo! ― gritava.
― Não seja tão medroso, John ― disse meu pai.
― Não! Não! Não! Naoooooo!
Mais tarde descobri que a loucura é de família. Minha avó por parte de pai tinha transtorno de personalidade limítrofe. Louca de pedra. Ela batia em mim o tempo todo, sem motivo. Tenho essa lembrança de receber seus tapas. E também havia a irmã mais nova da minha mãe, tia Edna, que se suicidou pulando num canal. Ela simplesmente saiu do hospital psiquiátrico um dia e decidiu se jogar num canal. Minha avó por parte de mãe também era um pouco doida. Ela tinha as iniciais de meu avô ― A. U., de Arthur Unitt ― tatuadas no braço. Penso nela toda vez que vejo uma dessas garotas lindas na TV com tinta por todo o corpo.
Parece legal quando você não tem compromissos, mas, pode acreditar, não é nem um pouco divertido quando se é avó e está tentando fazer seu neto dormir com uma adaga e duas cobras no bíceps. Mas ela não se importava nem um pouco. Minha avó chegou até os noventa e nove anos. Quando comecei a beber muito, ela me batia na bunda com um jornal enrolado e dizia: “Você está ficando muito gordo! Pare de beber! Você fede como um maldito bêbado!”. Mesmo assim, eu a adorava. Meus pais eram relativamente normais, em comparação. Meu pai era rígido, mas nunca me bateu ou me deixou trancado no porão, nem nada do estilo. O pior que poderia fazer passar era ganhar um tapa se fizesse algo de errado, como quando tentei acertar o joelho do meu avô com o atiçador quente da lareira enquanto ele dormia. Mas meu pai brigava muito com minha mãe e mais tarde descobri que batia nela. Ela o denunciou, uma vez, aparentemente, mas eu não fiquei sabendo de nada na época. Eu os ouvia gritando, mas nunca soube por que brigavam ― dinheiro, acho. Entendam, ninguém que vive no mundo real passa o tempo todo falando: “Oh, claro, querida, entendo, vamos conversar sobre nossos ‘sentimentos’, la‑la‑cacete‑la‑ra”. As pessoas que dizem que nunca brigaram vivem em outra porra de planeta. E casamento era algo diferente naqueles dias. Não posso nem imaginar o que devia ser, trabalhar a noite toda enquanto sua esposa trabalha todo dia e não ter nenhum centavo.
Ele era um cara bom, meu velho: simples, antiquado. Fisicamente, era forte como um peso‑pena e usava esses óculos grossos e negros. Costumava me dizer: “Você pode não ter uma boa educação, mas boas maneiras não custam nada”. E praticava o que falava: ele sempre dava seu assento para uma mulher no ônibus ou ajudava uma senhora a cruzar a rua. Um homem bom.
Eu realmente tenho saudades dele.
Editora: ‎ Belas-Letras; 1ª edição (31 agosto 2022) Idioma: ‎ Português Capa comum: ‎ 416 páginas
Sobre o Autor:
Ozzy Osbourne nasceu em Aston, Birmingham, no Reino Unido, em 1948. Ao longo de seus anos no Black Sabbath e em carreira solo, vendeu milhões de discos e se tornou uma lenda do heavy metal. Ele tem seis filhos e vive com sua esposa Sharon entre dois países: Estados Unidos e Inglaterra.
Disponível: AMAZON

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